Astrônomos profissionais e amadores estão voltando os olhos — e os telescópios — para um raro visitante: o cometa C/2022 E3 (ZTF), que não passava perto da Terra há 50 mil anos.
Ele está tecnicamente visível do hemisfério Sul, inclusive do Brasil, mas é tarefa difícil encontrá-lo no céu (mais abaixo damos algumas dicas para quem quiser tentar).
No hemisfério Norte, porém, o cometa deu um show nas últimas semanas, aparecendo muito brilhante e esverdeado.
Ele deve ser visto até o dia 15 de fevereiro — a cada dia, fica menos brilhante enquanto se afasta do Sol.
Confira algumas das melhores fotos:
Como ver?
Por aqui, ele aparece perto do horizonte e em uma pequena janela de tempo. Observadores da região Norte e Nordeste têm certa vantagem.
É imprescindível usar um aplicativo de astronomia (como Star Walk, Stellarium, Star Chart, SkySafari ou Night Sky) para encontrar o local exato do cometa naquele momento e local. Mas temos algumas dicas:
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Procure um lugar alto e com o horizonte norte desobstruído e sem poluição luminosa
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Olhe para o norte, entre o pôr do Sol e a meia-noite; o melhor horário é por volta das 20h
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O cometa aparece na região da constelação do Cocheiro (Auriga), próximo à estrela Capela
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Ele está se movendo para cima, em direção à constelação de Touro e ao planeta Marte, do qual se aproxima no dia 10
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Procure uma uma estrela borrada, uma manchinha no céu (não dá para ver a cauda a olho nu)
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Recomendamos o uso de binóculos
Seu brilho já está no limite do que o olho humano consegue enxergar, então é muito difícil vê-lo a olho nu, ainda mais na fase da Lua cheia, cujo brilho ofusca outros objetos.
Quem tiver uma câmera profissional, ou mesmo um celular com regulagens, pode apontá-la para a direção estimada, dar um zoom, e programar uma longa exposição (20 ou 30 segundos devem ser suficientes), para tentar registrar o brilho esverdeado do cometa.
“Ao visualizar as imagens, possivelmente você irá notar um objeto difuso e com cauda. Usando essa técnica, muitos estão conseguindo fotografar o cometa mesmo que não o veja no céu”, explica o astrônomo Filipe Monteiro, do Observatório Nacional.
Por que é verde?
Nas imagens registradas por telescópios, chama a atenção seu brilho verde e a cauda longa e azulada.
Um cometa só “acende” assim quando se aproxima do Sol (longe dele, é apenas uma bola de gelo sujo, com pedaços de rochas), e substâncias de seu núcleo passam diretamente do estado sólido para o gasoso, liberando gases e poeira, que criam uma nuvem ao seu redor — chamada de coma ou ‘cabeleira’.
A do C/2022 E3 (ZTF) é bem esverdeada, devido à sua composição diferente dos cometas esbranquiçados. A cor se deve à presença de carbono diatômico.
Quanto mais perto do Sol, estas partículas espalham-se por milhares de quilômetros, “sopradas” pelos ventos solares. Aí se forma a cauda — que desaparece quando o cometa distancia-se da nossa estrela. A do C/2022 E3 (ZTF) é azulada e tem aparência tripla.
Mas estes detalhes são vistos apenas com auxílio de telescópios e câmeras profissionais (astrofotografias).
🇵🇪 El #cometaverde ya está pasando sobre los cielos de Perú en estos momentos. Pidan su deseo.
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ᶜᵒᵐᵉᵗᵃ ᵛᵉʳᵈᵉ • #ᵍʳᵉᵉⁿᶜᵒᵐᵉᵗ • ˡᵘⁿᵃ • ˡⁱᵐᵃ pic.twitter.com/vsoEQ6k6qZ
— Omar 👁️🗨️ (@iamOmarPE) February 2, 2023
O cometa
O C/2022 E3 (ZTF) é um pequeno corpo rochoso e gelado, de apenas 1 km de diâmetro, vindo das profundezas do Sistema Solar. Ele passou perto da Terra pela última vez no final da Era do Gelo; as testemunhas foram nossos antepassados neandertais e os primeiros Homo sapiens.
O objeto errante foi descoberto em março de 2022, por um telescópio do Zwicky Transient Facility (ZTF — por isso seu nome), na Califórnia, Estados Unidos. Inicialmente, se acreditou tratar-se de um asteroide. Mas o aumento de seu brilho, ao ultrapassar a órbita de Júpiter, revelou que o C/2022 E3 (ZTF) tinha origem cometária.
Na quarta-feira (1º), ele passou “apenas” 42 milhões de quilômetros da Terra — o ponto mais próximo de nosso planeta, chamado perigeu —, o que equivale a 28% da distância entre nosso planeta e o Sol.
Agora, ele está retornando para os profundezas do Sistema Solar. Astrônomos não sabem se ele algum dia retornará para a Terra — mas, se isso ocorrer, deve levar mais uns 50 mil anos.
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