Em uma época na qual quase todo streaming tem uma série épica para chamar de sua, era questão de tempo até que o Disney+ entrasse no jogo. Para rivalizar com O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, no Prime Video, e House of the Dragon, na HBO Max, a plataforma do Mickey Mouse trouxe de volta um universo que parecia esquecido no interminável baú de memórias da cultura pop: Willow.
Para aqueles que não lembram (ou são muito jovens para sequer conhecerem), Willow: Na Terra da Magia (1988) foi um longa que surgiu durante a febre de produções de fantasia que marcou o fim dos anos 1980. Criado pela mente espetacular de George Lucas –o gênio por trás de Star Wars–, o filme contava a história do personagem-título (Warwick Davis), um jovem fazendeiro anão (ou newlyn) cuja vida muda para sempre ao encontrar um bebê padrão (ou daikini) na beira de um rio.
Neste universo, o mundo estava sob a ameaça da rainha Bavmorda (Jean Marsh), uma poderosa feiticeira que era soberana em um reino de maldade. Quando a pequena bebê Elora Danan nasce, ela se torna a criança prometida de uma lenda que poderia acabar com o reinado de terror da vilã. Salva da execução, a criança é colocada em um cesto no rio e acaba encontrada por Willow.
Ao lado do malandro espadachim Madmartigan (Val Kilmer) e da princesa guerreira Joanne Whalley (Sorsha), Willow se vê alçado ao papel de protetor de Elora e parte em uma jornada para levá-la em segurança a um reino no qual ela poderá usar sua magia para cumprir a profecia e livrar o mundo das trevas. Após enfrentarem exércitos, trolls e a própria Bavmorda, eles derrotam a rainha e trazem paz para todas as tribos.
Amar Chadha Patel, Ellie Bamber, Ruby Cruz, Warwick Davis e Erin Kellyman
Divulgação/Disney+
Indicado a dois Oscars, o longa arrecadou US$ 137 milhões (R$ 737 milhões) nas bilheterias e foi descrito por parte dos críticos como “um dos filmes de fantasia mais atraentes do mercado”. Durante mais de três décadas, ele permaneceu um clássico cult, até que Jon Kasdan (Rogue One: Uma História Star Wars) ressuscitou a franquia com uma série de oito episódios que serve como sequência da trama original.
Para trazer a franquia de volta, Kasdan não fez grandes malabarismos. Apesar da derrota de Bavmorda, a profecia ainda não havia se cumprido. Ou seja: as forças das trevas ainda existem, e a magia de Elora Danan é necessária para combatê-las. O problema é que Sorsha acredita que a magia é a grande responsável por tudo de ruim que aconteceu e decide acabar com isso, quase extinguindo os feiticeiros da face da terra –menos Willow, que ao final do longa original conquistou o direito de se tornar um.
A série do Disney+ se passa anos depois dos eventos do longa original. Sorsha e Madmartigan se casaram e tiveram os gêmeos Kit (Ruby Cruz) e Arik (Dempsey Bryk). Herdeiros do trono de Sorsha, os jovens cresceram longe do pai, que abandonou o reino sem dar muitas explicações –com a saúde debilitada, Val Kilmer não pôde reprisar o papel, mas o mistério envolvendo a partida de Madmartigan é uma das subtramas que movimenta a tração em sua primeira temporada.
Com uma nova força sombria ameaçando a paz, Sorsha ordena que um esquadrão de heróis seja formado para encontrar Willow e pedir que o anão os ajude na nova batalha –qualquer semelhança com O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel é (ou não) mera coincidência. Fazem parte da equipe o novo grupo protagonista da franquia: Kit, a aspirante a cavaleira Jade (Erin Kellyman), a copeira Dove (Ellie Bamber), o ladrão-espadachim Boorman (Amar Chadha-Patel) e o príncipe covarde Graydon (Tony Revolori).
Ellie Bamber é Dove em Willow
Divulgação/Disney+
A nova Willow é rica em história e expande seu universo para muito além do que foi visto no filme de 1988. Comparada a outras produções do gênero, a série parece nova e moderna em sua abordagem, subvertendo clichês como lindas princesas indefesas e bravos príncipes ao seu resgate.
O grande mérito do trabalho de Jon Kasdan é não tornar a série refém do longa original. Mesmo contando com o retorno de personagens e referências claras aos eventos do filme, a série se preocupa em desenvolver novos personagens e quebrar as fronteiras daquilo que os fãs já conheciam de Willow. O famoso “fan service” está lá, mas fica bem longe de soar gratuito.
O mistério envolvendo a identidade de Elora Danan também enriquece a narrativa. Escondida por Sorsha, a jovem cresceu sem saber o destino que a aguarda e se tornou alguém muito diferente daquilo que a profecia indicava. É apenas com a chegada de Willow que a protagonista começa a ganhar força e criar a coragem necessária para seguir o caminho predestinado.
Com muito humor, Willow mostra que não é preciso ter grandes sequências dramáticas ou ação de tirar o fôlego para prender a atenção do público. Bastam uma boa história e divertidas referências à obra original para que este universo tenha um bem-vindo e merecido retorno após mais de 30 anos.
Willow – 1ª temporada
Trailer legendado