O episódio desta terça-feira (01) do “Profissão Repórter”, na Globo, documentou em detalhes uma situação de suspeita de assédio eleitoral. Caco Barcellos estava em Coronel Sapucaia (MS) na última sexta-feira (28), véspera da eleição, quando flagrou uma reunião em que eleitores beneficiários do Auxílio Brasil estavam sendo cadastrados.
No momento em que jornalista entrou no local, a reunião foi dispersada. A maioria dos presentes não quis falar o que estava fazendo ali. Uma mulher revelou que houve convocação por mensagem. Os organizadores se recusaram a explicar o motivo do encontro. Um homem pressionou Caco. “É melhor ficar na sua”, disse.
“Se você precisa do Auxílio, você muda o seu voto na hora com medo de perder o benefício”, disse uma mulher, entrevistada por Caco depois da reunião. A secretária municipal confirmou que o motivo do encontro era falar sobre Auxílio Brasil, mas não deu mais detalhes.
Uma vizinha disse a Caco que as reuniões ocorreram ao longo de três dias. “Ouvi dizer que ao final da reunião o Rudi dá R$ 50 a cada um”. Rudi Paetzold é o prefeito de Coronel Sapucaia, que Caco encontrou, em outro local. Ele afirmou desconhecer a reunião.
A pauta original do “Profissão Repórter” era mostrar o cotidiano de três cidades às vésperas do segundo turno: a cidade que deu mais votos para Lula no primeiro turno (Ouricuri-PE), a que mais votou em Bolsonaro (Indaial-SC) e a que registrou empate (Coronel Sapucaia-MS).
A equipe do programa se dividiu em três e coube a Caco ir para a cidade no Mato Grosso do Sul. Com faro e sorte, o jornalista descobriu algo muito mais interessante do que havia sido planejado. Isso acontece com mais frequência do que se imagina. E é a prova de que, no jornalismo, nada supera o trabalho dos repórteres.
Como escrevi depois do primeiro turno, as eleições de 2022 foram as eleições das pesquisas eleitorais e do excesso de comentaristas. Faltou reportagem na rua para prever vários fenômenos que as urnas revelaram.
No “Profissão Repórter” desta semana, Caco Barcellos mais uma vez demonstrou o poder insuperável da reportagem. O trabalho teria ainda mais força se tivesse sido exibido ainda na sexta-feira ou no sábado, véspera da eleição. De qualquer forma, é um pequeno retrato do que ocorreu no segundo turno.