Agora que a poeira deu uma abaixada, pelo menos por enquanto, e sem novas informações divulgadas, podemos falar com um pouco mais de clareza sobre o ocorrido com as Americanas (AMER3).
A empresa divulgou em fato relevante que encontrou “inconsistências contábeis” no seu balanço no valor estimado de R$ 20 bilhões. Na ocasião, o CEO, Sérgio Rial, e o CFO, André Covre, renunciaram aos seus cargos.
O que aconteceu?
Basicamente, as Americanas estavam lançando no seu balanço algumas operações de “risco sacado” de forma inconsistente. O “risco sacado” é uma prática muito comum entre as empresas do setor do varejo, onde o fornecedor antecipa o recebimento do pagamento da varejista (nesse caso, as Americanas) através de alguma instituição financeira (geralmente, bancos).
Por exemplo, digamos que a uma Varejista X comprou R$ 1000 do Fornecedor Y com prazo de pagamento de 180 dias. A Instituição Financeira Z entra em contato com o Fornecedor Y e se oferece para antecipar esse pagamento no valor de R$ 900.
Geralmente, os fornecedores aceitam essa antecipação por possuírem prazos e fluxos de caixa apertados. Dessa forma, a Varejista X passa a ter uma dívida com a Instituição Financeira Z, onde a varejista se compromete a pagar os R$ 1000 em um prazo que seja mais favorável para ela.
Do ponto de vista contábil, a Varejista X teria de registrar R$ 900 como CMV (Custo Mercadoria Vendida) e R$ 100 como “dívidas com instituições financeiras”.
No caso das Americanas, o que aconteceu é que a empresa estava lançando as “dívidas com instituições financeiras” como “dívidas com o fornecedor”, de forma que sua dívida não estava corretamente refletida no seu balanço, dando a impressão que a varejista estava muito menos endividada do que a realidade. Isso ocorreu ao longo de um prazo de mais de 7 anos.
Quais os impactos?
Até o momento, a empresa informou que os impactos no caixa da companhia devem ser praticamente nulos. O que sabemos é que seus indicadores de dívida serão fortemente afetados, fazendo com que seja muito mais difícil dela conseguir pegar crédito com os bancos.
Além disso, como a dívida é superior ao patrimônio líquido da companhia, que gira em torno de R$ 11 bilhões, a empresa precisará se capitalizar para enfrentar os problemas contábeis que terá pela frente. A capitalização provavelmente será feita através de um follow-on (emissão de novas ações).
E agora?
De acordo com a companhia, não é possível determinar todos os impactos na demonstração de resultado e no balanço patrimonial. Pode ser que esse valor de R$ 20 bilhões seja só o começo de uma história muito mais longa, que pode afetar não só as Americanas, mas também outras grandes varejistas como Magazine Luiza (MGLU3) e Via Varejo (VIIA3).
A Via divulgou comunicado para explicar suas operações de “risco sacado”. Segundo a empresa, todas essas operações estão registradas nas demonstrações financeiras, em conformidade com as normas internacionais de contabilidade.
A empresa afirmou também que os respectivos montantes dessas operações estão publicados nas demonstrações financeiras e nos materiais de divulgação de resultados. Movimento importante da companhia para acalmar o mercado em relação a um possível “Efeito Americanas” nas suas ações.
O que fazer com as ações das Americanas?
Como não temos clareza do real tamanho e complexidade do caso, podendo haver diversos desdobramentos, nossa recomendação é que os acionistas vendam as ações. Apesar de gostarmos do varejo geral no Brasil, preferimos ter a nossa exposição a ele através de outro setor, o de shopping centers.
O setor de shoppings é uma ótima alternativa para o investidor que quer manter sua exposição ao varejo, pois o mix de lojas e serviços dá a ele uma rentabilidade muito maior, com mais resultados mais seguros.
Ação favorita
A nossa ação favorita do setor é a Multiplan (MULT3), uma das maiores operadoras de shopping centers e que tem foco nos consumidores de média e alta renda. A companhia vem apresentando sólidos números trimestre após trimestre, com forte crescimento de vendas e alta rentabilidade. Temos recomendação de compra para ações de Multiplan com um preço alvo de R$ 30.