A maioria das pessoas conhece a história da Estrela de Belém, que guiou os Três Reis Magos até o nascimento de Jesus Cristo, segundo a Bíblia. Mas, afinal. que “estrela” era essa? A ciência tem algumas teorias.
Spoiler: provavelmente, nem era uma estrela.
De acordo com o Novo Testamento, os três homens do “Oriente” ficaram impressionados com uma estrela linda e brilhante e decidiram segui-la — pois só poderia estar anunciando a “boa nova” prometida, o nascimento de um rei salvador. Após dias e centenas de quilômetros através do deserto, em camelos, chegaram a Jerusalém; pediram informações e encontraram o menino Jesus na pequena cidade de Belém, na atual Cisjordânia.
É difícil de provar se algo assim realmente ocorreu, 2028 anos atrás (Jesus provavelmente nasceu em 6 a.C., antes de Cristo, e não em 1d.C., devido a erros de cálculos na posterior elaboração dos calendários). Mas, partindo do pressuposto que sim, a questão intriga a humanidade, não apenas do ponto de vista religioso ou histórico, mas também científico.
Graças à astronomia moderna, podemos estar mais perto de uma resposta.
Cometa ou supernova?
Algumas teorias sugerem que eles possam ter se orientado por alguns dos objetos mais diferentões e possivelmente brilhantes do nosso céu: um cometa ou uma supernova (a morte explosiva de uma estrela).
Um cometa é uma das mais comuns explicações populares — inclusive, em ilustrações natalinas, a Estrela de Belém costuma ter uma cauda.
Sabemos que o Halley estava visível no céu mais ou menos naquela época, em 11 a.C, e há registros dos chineses de um em 5 a.C. Mas é improvável que pessoas consigam seguir um cometa — eles são pouco visíveis a olho nu e mudam de posição no céu (de acordo com a rotação da Terra e a sua movimentação pelo universo). Além disso, no mundo antigo, eram considerados maus presságios.
Também podemos descartar as supernovas. Para ser vista a olho nu, teria de estar bem próxima, e deixaria um remanescente que conseguiríamos detectar — mas astrônomos não encontraram nada que remonte àquela época. Também não há outros relatos sobre ela, o que é estranho, pois muitas outras pessoas ficariam impressionadas com algo tão grande e brilhante no céu.
As maiores estrelas ou planetas
Outras hipóteses consideram como referência os astros mais chamativos de nosso céu noturno, como os planetas Vênus, Júpiter e Marte, ou a estrela Sirius, (a mais brilhante de todas, na constelação do Cão Maior).
Alguns pesquisadores calcularam onde os Três Reis Magos teriam ido parar se os tivessem seguido — e nenhum cenário chegou a Israel. Sirius, por exemplo, levaria ao Polo Sul.
Na verdade, se eles tivessem seguido qualquer estrela, viva ou morta, provavelmente acabariam andando em círculos. Estrelas nascem e se põem todos os dias no nosso céu, não ficam paradas.
A estrela pode ser o céu inteiro
Isso nos leva a algumas possibilidades. Os Reis Magos poderiam ser meio astrônomos/astrólogos (as duas áreas eram muito ligadas mais de 2000 anos atrás) e estar fazendo uma interpretação do céu. O fato de terem pedido informações sobre um recém-nascido quando chegaram na região sugere que talvez não estavam sendo guiados ao destino final por um único objeto celeste.
Eles podem ter encontrado significado em algum alinhamentos de planetas e estrelas, por exemplo. Júpiter pode ter tido grande importância, pois, além de muito brilhante, era associado com a realeza.
Uma conjunção?
A possibilidade mais astronomicamente factível é que a Estrela de Belém tenha sido o resultado de uma conjunção — quando dois ou mais corpos celestes, como a Lua e planetas, aparecem bem próximos em nosso céu, chegando até a “encostar” (do nosso ponto de vista, pois continuam separados por milhares de quilômetros no espaço).
Eventos deste tipo ficam visíveis por dias ou semanas, com pequenas variações de posição. Se os Três Reis Magos seguiram uma conjunção, podem ter sido guiados a uma direção específica.
A Bíblia diz que eles viram o sinal celeste quando estavam em seu próprio país (a Babilônia, ao que tudo indica); quando saíram de Jerusalém para Belém, a viram de novo. E, após encontrarem Jesus, a estrela desapareceu.
O arranjo mais provável de ser o “culpado” é uma chamada conjunção tripla (quando aparece no céu três vezes em um curto período) entre Júpiter e Saturno — os dois maiores planetas do Sistema Solar. Isso é resultado de um alinhamento deles com o Sol e a Terra — que, em determinado momento, os ultrapassa, criando um movimento retrógrado aparente.
É algo raro (ou seja, impressiona quem vê), e sabemos que ocorreu em 6 b.C. Em 2020, coincidentemente na época de Natal, pudemos ver daqui. Olhe como é bem brilhante:
Outras duas conjunções que ocorreram naquela época também são boas candidatas: um encontro de Júpiter, Vênus e a estrela Regulus, da Constelação de Leão; e uma entre Júpiter, Saturno e Marte. Mas elas não se encaixam tanto na descrição.
O mistério continua
De qualquer forma, apesar de algumas teorias terem sido descartadas pelos cientistas e outras parecerem mais prováveis, nunca saberemos exatamente o que foi a Estrela de Belém, e se ela realmente ocorreu.
Todo ano, especialmente nesta época, continuaremos refletindo sobre o mistério.