Por Dawn Chmielewski e Lisa Richwine
LOS ANGELES (Reuters) – Em seu livro “No Rules Rules”, o cofundador da Netflix, Reed Hastings descreveu um momento em 2001 em que o capital de risco secou, obrigando a empresa a demitir funcionários e reter apenas os de maior desempenho.
“Isso foi um ponto de virada na minha compreensão do papel da densidade de talentos nas organizações”, escreveu Hastings. “As lições que aprendemos tornaram-se a base de muito do que levou a Netflix ao sucesso.”
Depois que Hastings deixou o cargo de presidente-executivo da empresa na quinta-feira, os novos co-presidentes – Ted Sarandos e Greg Peters – foram encarregados de manter uma cultura que se tornou destaque no Vale do Silício. Ao mesmo tempo, eles devem manter a empresa crescendo em uma economia fraca enquanto enfrenta concorrência crescente.
Hastings credita o sucesso da Netflix à cultura interna da empresa de transparência e inovação, que confere aos profissionais de alto desempenho autonomia incomum. Um conjunto de slides de 125 páginas que descreve a cultura da empresa foi baixado 17 milhões de vezes.
“Esta é uma grande mudança psicológica para a Netflix”, disse Neil Saunders, diretor administrativo da GlobalData. “Com Hastings permanecendo como presidente, sua experiência ainda estará disponível para a empresa. No entanto, existe um pequeno risco da cultura da empresa mudar e se tornar mais cautelosa, especialmente porque a incerteza econômica persiste.”
A Netflix perdeu clientes no primeiro semestre de 2022 e voltou a crescer na segunda metade do ano.
Diretor de conteúdo de longa data e co-diretor executivo, Sarandos e o ex vice-presidente de operações Peters dividirão a presidência-executiva da empresa que ainda luta com crescimento lento de assinantes nos Estados Unidos, em meio à intensa concorrência de serviços de streaming rivais.
Hastings disse que os dois têm conjuntos de habilidades complementares de compreensão do entretenimento e tecnologia e que a empresa irá crescer mais rápido com eles como co-CEOs.
Peters disse que a dupla planeja seguir em frente usando o manual de Hastings e que não há grandes mudanças a anunciar.
Sarandos e Peters serão encarregados de conter custos, enquanto a Netflix continua a produzir filmes e séries capazes de atrair e reter assinantes. Eles também precisarão encontrar novas fontes de receita, inclusive em videogames – onde enfrentarão rivais estabelecidos.
Richard Greenfield, analista de mídia da LightShed Ventures, disse que Hastings superou a indústria do entretenimento mais uma vez, agora em termos de gestão de sucessão.
“A maioria das empresas de mídia fez um trabalho relativamente ruim de transição gerencial”, disse Greenfield. “Isso parece ser Reed criando uma abordagem muito elegante para a transição de gestão.”