Parceria com Wilson Moreira, feita na década de 1970, ‘Sessenta e tal’ é a joia rara do disco gravado sob direção musical de Thiago França para festejar os 80 anos do compositor. ♪ Festejados em 9 de maio de 2022, os 80 anos do compositor e escritor carioca Nei Lopes ainda rendem homenagens neste ano de 2023. Na sequência do livro de poemas Oitentáculos (2023), editado em fevereiro, o bamba arremessa Nei Lopes 80 em 23 de março.
Trata-se de EP com cinco músicas inéditas inventariadas na pesquisa feita por Marcus Fernando no acervo de composições de Nei para viabilizar a edição do livro Academia de letras – Nei Lopes (2022), organizado por Fernando e publicado em setembro do ano passado.
Das cinco músicas do EP Nei Lopes 80, a joia rara é Sessenta e tal, samba de Nei com o compositor carioca Wilson Moreira (1936 – 2018), parceiro mais importante da obra musical do artista.
Na letra quase cinquentenária do samba, escrita nos anos 1970, Nei celebra as existências de nomes como Elizeth Cardoso (1920 – 1990), Clara Nunes (1942 – 1983) – cantora que deu voz a sucessos da parceria com Wilson Moreira, como Coisa da antiga (1977) e Candongueiro (1978) – e Conjunto Nosso Samba.
As outras quatro músicas inéditas do disco são criações mais recentes de Nei, sozinho ou com parceiros. Parceria com Claudio Jorge, Partido vacinado versa de forma espirituosa sobre os negacionistas da pandemia de covid-19 com versos como “A Saúde está doente / Vou me mudar pra Gamboa / Toma cuidado, gerente / Com o balanço da canoa”.
Já Clareia Iaô, samba de Nei com Alceu Maia, alveja os intolerantes com os cultos de religiões de matrizes africanas enquanto Surreal demais (Nei Lopes) celebra Cuba.
Capa do EP ‘Nei Lopes 90’
Arte de Kiko Dinucci
Composição da lavra solitária de Nei, Samba em repúdio completa o repertório do EP com título alusivo ao Samba em prelúdio (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1963), mas a inspiração da letra política é a expressão “Repudio veementemente”, ouvida pelo artista nos tempos em que ele cursava advocacia na Faculdade Nacional de Direito.
Além de o disco apresentar cinco músicas inéditas, o fato de a direção musical do EP Nei Lopes 80 ter sido confiada ao compositor, arranjador e saxofonista paulistano Thiago França já confere por si só valor documental ao disco.
Gravado no estúdio YB Music, na cidade de São Paulo (SP), o EP promove a interação de Nei Lopes – bamba do samba do Rio de Janeiro revelado em 1972 na voz de Alcione – com expoentes da geração musical paulistana projetada no século XXI.
Se Rodrigo Campos arranjou e tocou cavaquinho, guitarra, percussão, programação em Clareia Iaô, Kiko Dinucci inseriu o violão sinuoso em Surreal demais e criou a arte da capa do disco.
Aos 80 anos, Nei Lopes se recusa a ficar parado no tempo.