O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu, nesta quinta-feira (17), em um encontro com representantes da sociedade civil “reconstruir” um país que está “pior que em 2003”, quando chegou ao poder pela primeira vez.
“Quero que vocês me ajudem a reconstruir o país”, disse Lula no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh a uma audiência reunindo membros de ONGs e organizações brasileiras, que o aplaudiram várias vezes e se despediram dele aos gritos de “o Brasil voltou”.
“Estamos felizes com sua chegada” ao poder, mas “ficamos vigilantes” porque “demandas, presidente, temos muitas”, enfatizou Puyr Tembé, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
“O senhor veio nos ouvir; o atual governo [de Jair Bolsonaro] queria nos calar”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma ONG muito ativa na documentação dos danos na Amazônia brasileira.
O petista, de 77 anos, prometeu energicamente retomar a agenda social de seus dois primeiros mandatos (2003-2010), que tiraram 30 milhões de pessoas da pobreza.
Também se comprometeu a combater a desnutrição no Brasil, que em 2021 voltou ao “mapa da fome” da ONU, com 28,9% da população do país em situação de “insegurança alimentar moderada ou grave”.
O Brasil havia sido eliminado do mapa da fome em 2014, após a bonança econômica e as políticas sociais de Lula e sua sucessora Dilma Rousseff.
No encontro à margem da COP27, a cúpula anual do clima da ONU, Lula criticou o governo de Jair Bolsonaro, acusando-o de aumentar as desigualdades sociais e econômicas em um país muito polarizado, e afirmou que o Brasil que herda agora está “pior que em 2003”.
O presidente eleito, que assumirá o cargo em 1º de janeiro, se comprometeu igualmente a organizar conferências setoriais para ouvir as demandas de jovens, mulheres e pessoas com deficiência.
– “Respeito” ao agronegócio –
Assim como fez na véspera em discurso na COP27, Lula reiterou seu compromisso com a preservação da Amazônia.
Pediu “respeito” mútuo ao poderoso setor agrícola, favorecido pelo governo Bolsonaro e responsável em parte pelo desmatamento que no período 2020-2021 atingiu seu nível máximo em 15 anos, segundo dados oficiais.
“Quero que me respeitem, como eu respeito eles. O verdadeiro empresário do agronegócio sabe que não pode fazer queimada em um lugar que não pode queimar (…). O verdadeiro empresário do agronegócio tem um compromisso” com a responsabilidade ambiental, disse o presidente eleito.
“Hoje a gente sabe que não é preciso destruir um metro quadrado de árvores para aumentar a produção de soja”, enfatizou. “Temos milhões e milhões de hectares de terra degradada que pode ser recuperada”.
Acompanhado de sua esposa Janja e de aliados, como sua ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o presidente eleito está no Egito em sua primeira viagem ao exterior desde sua vitória eleitoral contra Bolsonaro em 30 de outubro.
Lula foi recebido como um herói pelos ativistas do clima em Sharm el-Sheikh.
Sinto “uma imensa alegria” em estar aqui “depois de tudo o que aconteceu no Brasil e na minha vida”, disse o ex-metalúrgico.
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