Jack Dorsey, um dos fundadores do Twitter e ex-CEO da rede social, quebrou o silêncio neste sábado (5) após a demissão em massa que atingiu funcionários da empresa ontem (4). Calcula-se que cerca de 3.700 pessoas tenham sido desligadas, o que representa 50% do total do quadro de colaboradores.
“As pessoas do Twitter do passado e do presente são fortes e resilientes. Eles sempre encontrarão um caminho, por mais difícil que seja o momento. Percebo que muitos estão com raiva de mim. Eu assumo a responsabilidade de por que todos estão nesta situação: eu cresci o tamanho da empresa muito rapidamente. Me desculpe por isso”, publicou Dorsey em seu perfil na própria rede social.
“Sou grato e amo todos que já trabalharam no Twitter. Eu não espero que seja mútuo neste momento… ou nunca… e eu entendo”, acrescentou.
Diante da possibilidade de compra por Elon Musk (que se prolongou por meses), Dorsey chegou a dizer, em abril deste ano, que a venda para o empresário era “a única solução na qual confio”.
O cofundador da plataforma foi diretor-executivo em dois momentos da empresa. De 2006, quando a rede social foi fundada, até 2008. Na época, Evan Willians, outro fundador, passou a liderar a companhia.
Em 2015 ele voltou ao cargo e permaneceu até novembro de 2021. Parag Agrawal, que atuava presidente de tecnologia da empresa (CTO), assumiu a posição na sequência. Ele foi demitido recentemente após a conclusão de compra do Twitter por Elon Musk.
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Por que Elon Musk está demitindo geral
O empresário, fundador da Tesla e da SpaceX, comprou o Twitter por US$ 44 bilhões. Os argumentos para as demissões, segundo ele, envolvem a necessidade de a empresa precisar equilibrar as conta e se tornar lucrativa — a cobrança de um valor mensal para as contas que são verificadas, inclusive, é uma das estratégias já anunciadas.
Segundo a agência de notícias Reuters, um comunicado interno teria sido enviado aos funcionários na noite de quinta-feira (3) anunciando que uma série de demissões iria começar a ocorrer a partir de sexta —alguns profissionais alegam que já na noite de quinta não conseguiram ter acesso aos logins da empresa.
O jornalista do The Washington Post Will Oremus postou o conteúdo do que parece ser o comunicado interno oficial por email. A mensagem diz que aqueles que não foram afetados pelas demissões seriam informados por meio de seus emails de trabalho, mas os que fossem demitidos seriam informados em seus emails pessoais.
“Aqui está a primeira comunicação oficial da nova liderança do Twitter para sua equipe, uma semana depois que Musk assumiu: um jogo divertido onde você descobre se foi demitido ou não às 9h de amanhã, com base em se o email aparece em sua conta do Twitter ou conta pessoal”, comentou.
Ainda de acordo com a imprensa internacional, o clima entre os funcionários que não foram demitidos até o momento é de tensão.
Relatos dos profissionais demitidos
Nos Estados Unidos, um grupo de ex-funcionários demitidos do Twitter já está se mobilizando para abrir processos judiciais alegação de que não receberam aviso prévio da rescisão do contrato, o que fere as leis trabalhistas dos EUA.
Alguns dos demitidos pertenciam ao quadro de colaboradores desde o início das operações da rede social. Foi o caso do diretor geral na França, Damien Viel. “Todos os meus pensamentos, respeito, energia e amor a todos os tweeps ao redor do mundo hoje. Construímos juntos o aplicativo mais incrível do planeta. Vamos nos orgulhar de tudo que fizemos e como fizemos #lovewhereyouwork”, declarou o executivo.
“Tweep” é o modo como os funcionários se chamam dentro da companhia.
“Rolar (a tag) #LoveWhereYouWork é de partir o coração. Esta empresa foi feita dos seres humanos mais talentosos, orientados para a missão e atenciosos. Essas pessoas fizeram dele um lugar tão especial”, postou a diretora de comunicação externa e relações públicas, Audrey Herblin.
Muitos dos funcionários demitidos faziam parte de equipes ligadas às atividades de moderação de conteúdo, ética, transparência, responsabilidade e inteligência artificial. Esse trabalho é fundamental quando se pretende construir uma plataforma capaz de identificar, filtrar e bloquear posts em texto e imagem que contenham discurso de ódio, por exemplo.
“Sim, a equipe se foi. A equipe que estava pesquisando e pressionando por transparência algorítmica e escolha algorítmica. A equipe que estava estudando amplificação algorítmica. A equipe que estava inventando e construindo ferramentas e metodologias de IA éticas. Tudo isso se foi”, lamentou a engenheira de software, Joan Deitchman.
Frustrada, a profissional já alterou a bio de sua conta no Twitter, como ex-gerente de engenharia sênior da empresa. “Provavelmente minha última mensagem no Slack no Twitter. A equipe de Ética, Transparência e Responsabilidade do ML foi única. Eternamente grata que @ruchowdh deu uma chance a mim e eu pude ser uma pequena parte disso”, declarou.
“Estou oficialmente fora. Foi o maior prazer fazer parte da família de pesquisa de ML Responsável no Twitter no último ano e meio – mais anúncios estão por vir”, afirmou a analista de experiência do usuário (UX) Irene Font Peradejordi.
Além das hashtags, a maioria das postagens sobre os desligamentos contém o emoji “cara de saudação”, representando um gesto de continência, mas que representa respeito e apreço aos amigos, sejam superiores ou subordinados.
“Essa tela cinza poderia ter sido um encontro? #LoveWhereYouWorked #OneTeam #TwitterBlue”, disse Karen Zapata.
“Estou chorando. Não porque eu perdi meu emprego. Mas por causa do amor e apoio entre todos os Tweeps agora! Realmente me sinto tão sortudo por ter tido a chance de experimentar algo tão magnífico e especial. #LoveWhereYouWorked“, declarou o ex-diretor de arte do Twitter, Anton Schulz. Logo em seguida, em outro tweet, ele contou que estava chorando muito.
O brasileiro Edson Caldas, que também era funcionário do Twitter, lamentou sua saída.
“Trabalhar no Twitter mudou completamente minha vida. Por mais de 4,5 anos, trabalhei com o grupo mais talentoso de pessoas (em vários países). E sempre terei orgulho do impacto que tivemos na plataforma. Se você precisa de profissionais altamente qualificados, basta #HireATweep !”, disse Edson.
*Com texto de Rosália Vasconcelos, em colaboração para Tilt