Ao chegar a um ponto da badalada praia de Maresias, em São Sebastião, no litoral norte paulista, de uma coisa o banhista pode ter certeza: a água estará própria para ele se divertir.
Praia aberta e com circulação de água considerada adequada, Maresias tem um ponto de medição da balneabilidade que, desde que foi implantado, não qualificou o local como impróprio uma vez sequer.
São praticamente seis anos em que a água analisada pela Cetesb (companhia ambiental paulista) em frente à travessa 15 sempre é classificada como própria para banho, diferentemente do registrado em outros locais de São Sebastião e da própria praia.
A cidade paulista tem 30 pontos monitorados pela Cetesb, dos quais 12 foram considerados bons todas as semanas no período de novembro do ano passado a outubro deste ano. Isso significa que, em todas as medições, o local esteve próprio para banho.
Os dados mostram, porém, queda em relação à temporada anterior, quando 18 praias foram classificadas como boas. As praias regulares são 13 no levantamento atual, ante as oito do ano passado. As ruins se mantiveram iguais: quatro em cada ano. E 2022 teve uma praia ruim na cidade (São Francisco), ante nenhuma do ciclo anterior.
Na última semana, galhos e folhas trazidos pela maré cobriam uma pequena faixa da areia de Maresias. Quem conhece o lugar, porém, sabe que isso não era empecilho para atrapalhar a qualidade do banho de mar.
“Hoje está mais escura por conta da frente fria que entrou. Veio muito sedimento com o rio. Mas, normalmente, é bem limpinha”, afirmou a guarda-vidas Jéssica Jesus de Oliveira, 27, que também é bióloga marinha.
A cor da areia e o próprio cheiro da água são os sinais mais perceptíveis de que Maresias é um lugar menos poluído.
“Aprendi a surfar no litoral sul, mas a água daqui é incomparável. É uma Floripa a 150 quilômetros de São Paulo. Se pudesse, moraria aqui. Nunca vi Maresias com água suja. É um paraíso”, afirmou o publicitário Ricardo Adilson Lopes, 44.
Embora a qualidade seja muito boa, a água de Maresias está longe de ser tranquila para quem quer entrar no mar.
“Para banhistas, é péssimo. Você coloca o pé no rasinho e sente a força da correnteza”, contou Lopes.
Essa água auxiliou na formação do tricampeão mundial de surfe Gabriel Medina, cria do local.
Segundo moradores do entorno, nada acontece por acaso na praia. Há programas lixo zero em pousadas e outras instalações usam biodigestor, que acelera o processo de decomposição da matéria orgânica do esgoto.
Recepcionista da pousada Pé Na Mata, Taina Pereira de Matos, 35, disse estar empenhada em ver a água límpida, assim como outras pessoas da praia.
“Temos separação de lixo, composteira. É um trabalho de formiguinha para conscientizar os hóspedes”, afirmou.
Maresias tem dois pontos monitorados semanalmente pela Cetesb. O outro, em frente à praça Benedito João Tavares, também foi avaliado como bom nos dois últimos anos, depois de quatro anos qualificado como regular —quando fica impróprio em até 25% das medições.
“Além do regime de chuvas, o que influencia [a qualidade da praia] é ter uma ocupação urbana próxima e a configuração dessa praia, a geomorfologia dela também é importante. No caso de Maresias, a praia é bem aberta, de surfista, com circulação de água muito boa”, disse a gerente do setor de águas litorâneas da Cetesb, Claudia Lamparelli.
Segundo ela, nesses locais, as fontes de poluição fecal não são muito significativas e, quando chegam ao mar, se dispersam com facilidade.
“Ao contrário de praias fechadas em baías, que não têm a circulação dessa água. Maresias é um bairro de São Sebastião, não tem uma população muito significativa, e tem essa dispersão.”
Situação semelhante ocorre em Ubatuba, que apresenta locais de pequena ocupação urbana e condições muito boas de dispersão.
Enquanto Maresias continua propícia para mergulhos, no estado houve retrocesso na qualidade das praias no intervalo de 12 meses, conforme levantamento feito pela Folha com base em dados da Cetesb.
Dos 178 pontos avaliados pelo órgão estadual —a maioria deles semanalmente—, 44 estiveram próprios para banho todas as semanas entre novembro de 2021 e outubro deste ano, ante 59 de igual período anterior.
Enquanto isso, as praias avaliadas como regulares subiram de 61 para 80 e as péssimas, de 14 para 18.
Outros 33 pontos foram avaliados como ruins nos dois anos —em 2021, porém, 11 pontos não tiveram medição devido à pandemia da Covid-19, ante 3 deste ano.
Lamparelli orienta que os banhistas utilizem o app da Cetesb quando chegarem às praias para verificarem a qualidade do local em que pretendem curtir o mar. Outra opção é procurar a bandeira da Cetesb na praia. Se ela estiver na cor vermelha, o local está impróprio para banho.