(Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, em pronunciamento ao lado do presidente do Uruguai, Luís Alberto Lacalle Pou, em Montevidéu, que é possível o Mercosul firmar um acordo comercial com a China e que as negociações irão começar assim que o bloco concluir as negociações com a União Europeia.
“Disse ao presidente Lacalle, e tenho dito aos meus ministros, que vamos intensificar as discussões e firmar este acordo com a União Europeia para que a gente possa discutir em seguida um possível acordo entre China e Mercosul, e acho que é possível”, afirmou.
O presidente destacou o fato de o Brasil ter na China o maior parceiro comercial e que o país tem um grande superávit com o gigante asiático, mas disse que independentemente disso o país quer “sentar enquanto Mercosul e discutir com nossos amigos chineses o acordo Mercosul-China”.
Um dos principais objetivos da viagem de Lula a Montevidéu era negociar com o presidente do Uruguai para preservar o Mercosul, que se vê ameaçado pela decisão uruguaia de negociar acordos de livre comércio à revelia do bloco, em especial com a China.
Em fala anterior a Lula, o presidente do Uruguai disse que seu país tem a necessidade de se abrir ao mundo e pode fazer isso junto com o Mercosul, mas destacou que vai manter as negociações diretas com a China fora do bloco regional.
“O Uruguai está com suas tratativas, negociações, e não tem nenhum impedimento em informar a Brasil, Argentina e Paraguai”, disse Lacalle Pou, mencionado os demais países do Mercosul.
“Ao mesmo tempo vamos criar uma equipe técnica com Uruguai, Brasil e com certeza os outros países para ver o que realmente queremos e precisamos de nosso relacionamento com a China”, completou.
Depois de Lacalle Pou afirmar em entrevista na véspera durante a Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Buenos Aires, que o Uruguai não pretende desistir das negociações extra-bloco, o embaixador Celso Amorim –assessor especial de Lula– disse que é preciso respeitar as demandas do Uruguai e encontrar formas de atender interesses, mas sem prejudicar o Mercosul.
Em outro momento na agenda na capital Montevidéu, o presidente destacou que pretende reforçar o Mercosul na sua gestão.
“Quero construir definitivamente a unidade da América do Sul, a unidade da América Latina e fortalecer o Mercosul para que Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai, e agora a Bolívia, que a gente possa ser um bloco comercial muito forte para melhorar a vida do povo brasileiro, uruguaio, argentino, paraguaio e de toda a América do Sul”, disse.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul está travado, muito em função de preocupações da Europa com questões ambientais que envolvem o Brasil e a região amazônica.
Citada por Lula, a Bolívia ainda não faz parte do Mercosul. A adesão do país ao bloco ainda requer o aval do Congresso brasileiro, última etapa que falta para a confirmação do novo integrante.
JUSTIÇA
Em seu pronunciamento, Lula disse que as reivindicações de Lacalle Pou são “mais que justas” e que o papel de um presidente é defender os interesses do seu país, da sua economia e do seu povo.
Após citar o “ótimo relacionamento” que teve com antecessores do atual presidente uruguaio, em especial com Pepe Mujica –a quem visitaria mais tarde antes de voltar ao Brasil– Lula disse ter deixado claro a Lacalle Pou que sua relação com chefe do Estado não tem viés ideológico.
“Presidentes não precisam pensar como eu do ponto de vista ideológico”, disse. O líder uruguaio é de um partido de centro-direita.
Lula disse que voltou a ser presidente não apenas para resolver o problema do povo brasileiro, mas também por acreditar no multilateralismo e reiterou que quer fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Celac. Ele afirmou que pretende “brigar por uma nova governança mundial”.
“O mundo de hoje não é mais o de 1945 quando se criou a Organização das Nações Unidas. A geopolítica é outra e as necessidades da humanidade são outras, sobretudo quando se trata da questão do clima”, afirmou.
“Espero contar com o Uruguai nessa briga por uma nova governança mundial com mais países participando, mais países no Conselho de Segurança da ONU e sem direito a veto. Aí a ONU será mais representativa e quem sabe não estaria havendo a guerra Rússia-Ucrânia”, ressaltou.
(Reportagem de Ricardo Brito, em Brasília)