Custa tão pouco aos grandes dar apenas palavras e a sua condição os dispensa tanto de manter as belas promessas que nos fizeram, que é modéstia da parte deles não prometer com largueza ainda maior.
La Bruyère
Meirelles não poderia ter feito comparação mais apropriada. Em palestra promovida pelo banco BTG Pactual, o ex-presidente do Banco Central disse:
Ele [Lula] começou a sinalizar uma direção à Dilma. Estou pessimista, não tenho dúvida. Só posso dizer uma coisa a todos vocês: boa sorte”. Ou seja, Lula “dilmou”!
Diante do país em polvorosa com o discurso inconsequente do presidente eleito, outros especialistas e empresários, muitos deles ferrenhos apoiadores de Lula, passaram a fazer comentários desabonadores para o futuro do país.
Cobranças
Agora querem que o líder petista apresente de maneira clara quem serão os ministros responsáveis pela condução da nossa economia e exponha quais serão os planos estratégicos do país. Perceberam que com esse discurso populista teremos a volta da inflação, a queda do PIB e o aumento do desemprego.
Em editorial contundente intitulado “Mau começo”, a Folha de São Paulo (sábado, 12), sentindo o cheiro do desgoverno no ar, foi feroz em sua crítica a um presidente que começa errando, mesmo sem ter assumido o controle do país:
Em apenas duas semanas desde o desfecho das eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu derrubar grande parte das esperanças de que seu governo vá adotar uma política econômica racional e socialmente responsável.
Após analisar com lupa os riscos da teoria de Lula, o editorial continua prevendo as consequências nefastas da falta de consciência daquele que, com bravatas, prometeu melhorar a vida dos brasileiros:
Lula deseduca ao tentar fazer crer, em um primarismo atroz, que governos só controlam gastos por não se importarem com os pobres. Do mesmo modo, fala em metas de crescimento econômico, como se isso estivesse ao alcance de uma canetada do presidente.
Ao contrário, tolices desse calibre põem em risco a retomada da atividade e do emprego, que surpreendeu positivamente neste ano. Como o governo Dilma Rousseff desenhou para todo o país, irresponsabilidade orçamentária é o caminho mais curto para a estagflação.
Sem novidade
Para quem ouviu atentamente os discursos de Lula na campanha, o que está ocorrendo já nessa fase pós-eleição não deveria ser nada inusitado. Ele avisou que agiria assim. Falou com todas as letras. Provavelmente quem o apoiava deve ter julgado que se tratava apenas de perorações eleitoreiras. Em agosto disse para quem quisesse ouvir:
O teto de gastos foi criado para que se evitasse dar aumento na saúde, na educação, no transporte coletivo, na renda das pessoas que trabalham neste país.
E para deixar claro que estava falando sério, chamou a atenção de que iria mesmo pôr em prática essas promessas:
É importante saber que não é nenhuma bravata. Vocês sabem que eu não sou de fazer bravata, não sou de rasgar nota de dez, não sou de dizer coisas que eu não acredito, mas não terá teto de gastos em lei no nosso país.
Crença ou conveniência?
Será que esses apoiadores que agora se mostram surpresos e indignados acharam que ele não estava sendo sincero, ou tinham tanto interesse em mudar o governo de turno que fizeram ouvidos moucos?
Lula já havia declarado que durante a campanha promete uma coisa e que, depois de eleito, faz outra. Talvez seus seguidores imaginassem que nos discursos desta campanha estaria agindo com esse descompromisso, de prometer e não cumprir.
Estelionato eleitoral
Sem contar que agora, se o presidente eleito mudar o discurso, estará aplicando um estelionato eleitoral. Tomara que se arrependa e diga que não disse o que disse. E para o bem do Brasil, talvez poucos se incomodem com essa falta de coerência.
Se agora, que ainda nem pôs os pés no Palácio do Planalto, já prega essas aberrações, dá para deduzir o que fará quando estiver com a caneta presidencial nas mãos. Meirelles disse: “Boa sorte”. Eu digo: “Deus nos ajude”.
Superdicas da semana
- Não prometa se não puder cumprir
- Se prometer, cumpra
- Se prometeu, mas a promessa for prejudicial aos outros, não cumpra
- Antes de prometer, pese a responsabilidade das palavras
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: “Como Falar Corretamente e sem Inibições”, “Comunicação a distância”, “Os segredos da boa comunicação no mundo corporativo” e “Oratória para advogados”, publicados pela Editora Saraiva. “29 Minutos para Falar Bem em Público”, publicado pela Editora Sextante. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.