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“Gato de Botas 2” é uma ótima surpresa para começar bem o ano no cinema – 05/01/2023

“Gato de Botas 2” é uma ótima surpresa para começar bem o ano no cinema – 05/01/2023

Parece que faz uma eternidade desde que o ogro Shrek reinou supremo nas bilheterias, uma resposta irônica e bem-humorada à fórmula dos contos de fadas da Disney. Depois de quatro filmes lançados entre 2001 e 2010, porém, o fôlego da série esgotou.

Seu último suspiro foi um produto derivado inevitável. “Gato de Botas”, lançado em 2011, jogou o holofote para o herói felino com voz de Antonio Banderas (apresentado em “Shrek 2”, de 2004) em uma aventura que encerrava o ciclo com um final feliz.

Hollywood, entretanto, não é muito confortável com a palavra “final”. Com a onda de nostalgia que hoje conduz o cinemão, não é de todo inesperada a chegada deste “Gato de Botas 2: O Último Pedido”. A surpresa, entretanto, é descobrir que a nova aventura é melhor do que toda a série que a precedeu, um começo de ano no cinema colorido, dinâmico, emocionante e divertido.

Estes predicados ganham peso quando “O Último Pedido” os amarra em um tema inesperado para uma animação infantil: o medo da morte. É o fio condutor desenhado pelo Gato de Botas quando ele percebe que esgotou oito de suas nove vidas ao longo de suas aventuras.

Aconselhado a se aposentar, ele hesita mas finalmente enterra (literalmente) seu chapéu, capa, espada e botas ao confrontar o Lobo Mau (Wagner Moura), que o derrota em combate e promete retornar para terminar o serviço.

Despido de sua identidade, e recolhido em uma “casa de repouso” felina, o Gato descobre a existência da mítica estrela dos desejos; Ao lado do novo companheiro Perrito, e de seu amor perdido Kitty Pata-Mansa (Salma Hayek), ele sai em uma jornada para recuperar suas vidas perdidas.

“Gato de Botas 2: O Último Pedido” segue uma estrutura familiar, em que núcleos diferentes buscam o mesmo tesouro. Além do Gato, o filme apresenta Cachinhos Dourados (Florence Pugh) e os Três Ursos de um lado, e o vilanesco Jack Horner, um colecionador de artefatos e criaturas mágicas, do outro. A jornada vai abrir novas feridas, sanar erros do passado e mostrar ao nosso herói, por fim, o verdadeiro valor da vida.

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Kitty Pata-mansa (Salma Hayek) se reúne com o galante Gato de Botas (Antonio Banderas)

Imagem: Universal

Existe um capricho em “Gato de Botas 2” que deveria ser regra em toda série de animação. Em vez de buscar texturas e paisagens hiper realistas, o novo filme abraça um visual que parece dar vida a um livro ilustrado de contos de fada. A mistura de técnicas também segue a linha de “Homem-Aranha no Aranhaverso”, em especial nas cenas de ação super estilizadas que trazem pitadas de anime em seu dinamismo.

Mesmo com a produção rebuscada, é o cuidado com o roteiro e com seus temas que coloca o novo filme em posição de destaque. Pode ser herança de “Shrek”, um conto de fadas fora da curva, que inspirou os realizadores de “Gato de Botas 2” a arriscar um tema tão sóbrio em um filme primariamente infantil.

Essa coragem, porém, não é nada além de um reflexo da própria natureza dos contos de fadas, histórias fantásticas que usavam personagens e situações lúdicas para ensinar as verdades da vida para a criançada. Falar sobre envelhecer com o medo da morte em um filme para a criançada é respeitar seu próprio público, é ir além da mentalidade corporativa que conduz a indústria.

Acima de tudo, “Gato de Botas 2: O Último Pedido” mostra que não existe nenhuma história, personagem ou série que seja irrecuperável. Às vezes basta pensar fora da caixa que até um herói felino, até um pouco surrado e em crise de meia-idade, encontra espaço para uma última aventura. Bom, “última” até o inevitável “Shrek 5”.

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