Sempre é difícil dizer adeus a algo que tenha sido parte integrante da sua vida por um longo tempo. Na última semana, a comunidade de realidade virtual (RV) foi surpreendida pelo anúncio de que o jogo Echo VR, da Meta, está chegando ao fim. Depois de sete anos aparentemente bem-sucedidos, esse e-sport, que é uma espécie de jogo de frisbee em gravidade zero será desligado. Já tem até data para o enterro: agosto.
Lançado em 2017 e desenvolvido pelo estúdio Ready At Dawn, o jogo foi comprado pela Meta e rapidamente conquistou uma comunidade apaixonada de jogadores. Nela, os jogadores participam de partidas rápidas em zero gravidade com amigos e estranhos em combates robóticos em alta velocidade.
O jogo logo se tornou favorito tanto para jogadores casuais como para fanáticos competitivos e integra a lista dos esportes disputados no VR Master League, plataforma dedicada a promover os e-sports competitivos na realidade virtual e que é frequentada por milhares de jogadores.
Entre os que ainda não experimentaram a realidade virtual, é difícil compreender a profundidade da perda que a comunidade Echo VR está sentindo. Para essas pessoas, Echo VR não é apenas um jogo, mas um lugar para conexão, diversão e desenvolvimento de habilidades.
Em um editorial para o UploadVR, Sonya Haskin, uma mãe solo, americana e jogadora de Echo VR descreve um pouco do impacto que esse universo virtual lhe trouxe:
Minha vida mudou drasticamente por meio do Echo quando me tornei um jogador de esportes de RV, especialista em comunidade, jornalista de esportes, palestrante e defensora declarada da RV. Longe de minhas raízes conservadoras, fiz amigos em todo o mundo, descobri coisas novas sobre mim e sobre os outros e ganhei habilidades para uma nova carreira.”
Para Sonia e tantos outros frequentadores desse e de outros mundos virtuais, aquela realidade é tão presente em sua vida quanto o clube da esquina, seu bar predileto ou a casa de shows favorita.
No fim e ao cabo, é um espaço para encontrar amigos, conversar e fazer atividades juntos.
Na outra ponta da tecnologia, o ex-CTO da Meta, John Carmack, que saiu há alguns meses da empresa para se aventurar pelas bandas da inteligência artificial, escreveu uma longa carta criticando a decisão da empresa.
Nela, Carmack reforça a importância de não menosprezar o “valor dos usuários”, justamente reconhecendo a força e a potência que a existência de pessoas como Sonya trazem para os produtos e os propósitos das empresas.
Ele propõe uma série de alternativas ao simples encerramento da plataforma, incluindo:
- Reduzir o suporte ao mínimo, permitindo que um único desenvolvedor gerencie o jogo;
- Ceder a propriedade do jogo para alguém externo;
- Colocar um aviso de “não suportado”;
- Ou mesmo abrir o código
A despedida de Echo VR é apenas mais um exemplo de como os mundos virtuais são finitos, e como nossa relação com eles é, pelo menos por enquanto, temporária.
A realidade virtual ainda está em sua infância, e com certeza não será a última vez que veremos a extinção de um universo virtual importante para a comunidade.
AltspaceVR, da Microsoft, está seguindo o mesmo caminho e também está prestes a desaparecer.
Ao mesmo tempo em que esses mundos virtuais oferecem novas oportunidades e possibilidades para a construção de comunidades e relacionamentos, eles também trazem questões éticas e morais sobre a finitude desses relacionamentos.
A pergunta é: como devemos lidar com a possibilidade de que tais mundos virtuais possam desaparecer sem aviso prévio, levando consigo memórias e relacionamentos humanos e íntimos construídos ao longo do tempo?
A resposta a essa pergunta certamente será influenciada pelo amadurecimento da tecnologia RV e pelo próprio desenvolvimento dessas comunidades. Enquanto isso, é importante refletir sobre a nossa relação com esses mundos virtuais e sobre o valor que damos a eles.