Nem a abertura da Copa do Mundo nem a virada de tempo em São Paulo desmotivaram as 4.500 pessoas que visitaram o Festival Fartura neste final de semana. Depois de dois anos de encontros online, a oitava edição do evento aconteceu no Jockey Club e celebrou a diversidade da gastronomia brasileira, em parceria com a Folha.
“Percorremos mais de 90 mil quilômetros por todo o país atrás de insumos, receitas e chefs. Trouxemos tudo para cá”, diz Carolina Daher, curadora de gastronomia do Fartura.
“O mundo inteiro sentiu os impactos da pandemia. Porém, nosso setor foi o que mais sofreu —não só as perdas humanas e econômicas, mas também emocionais. Estar de volta é um recomeço”, diz Rodrigo Ferraz, diretor-geral do Fartura.
Ao longo dos dois dias, o público provou 22 receitas de 11 restaurantes, mais 24 aulas com dicas e histórias da cultura alimentar regional. Dois sucessos de público foram a aula da Dona Clarinda, 53, chef da etnia Sateré-Mawé que comanda o Biatüwi, considerada a primeira casa de comida indígena de Manaus, e a da chef paulistana Bel Coelho, 43.
“A gastronomia é um ato de resistência. Poucas cadeias produtivas envolvem tantos setores de mercado como a comida. Quando praticamos essa cadeia de forma correta, afetamos pilares como saúde, educação e economia”, diz Bel.
Além de discutir sobre sustentabilidade, o Projeto Fartura é também um meio para celebrar a identidade alimentar nacional com a valorização de ingredientes regionais.
Bom exemplo é a castanha de baru, originária do cerrado, e que nas mãos do chef Ian Baiocchi, 33, de Goiânia, em Goiás, virou sorvete, missô e petisco. “Conheci a castanha só quando vim trabalhar em São Paulo, em 2008. Desde lá senti a necessidade de trabalhar na divulgação dela”, conta Baiocchi. Neste último domingo, ele ministrou um curso sobre a biodiversidade do bioma do Centro-Oeste.
As amigas Ieda Barbosa, 56, secretária, e Sulamita Theodoro, 36, gerente de projetos, já conheciam o Fartura em outras cidades, mas estrearam em São Paulo neste ano. “Estou atrás de autenticidade quando o assunto é gastronomia, quero o que sempre vem carregado de histórias”, diz Sulamita.
O queijo quente da padaria paulistana Na Fila do Pão, do chef-padeiro Diêgo Penido, foi o item mais pedido durante os dois dias de programação —que, ao todo, vendeu mais de 6.500 refeições. O sanduba de brioche de fermentação natural leva queijo Serra da Canastra (queijaria Roça da Cidade), queijo do Reino (Queijaria Palmyra) e muçarela Ronni, e é acompanhado de geleia de cebola caramelizada (R$ 30).
Em segundo lugar ficou a coxinha de cupim braseado (R$ 35; cinco unidades), do chef Thiago Paraíso, do restaurante Ouriço, do Distrito Federal, seguido pela costela com purê de queijo e picles de jiló (R$ 45), do chef Claude Troisgros, do restaurante Chez Claude, de São Paulo.
De sobremesa, a cocada de forno com farinha de coco e babaçu e especiarias, do food truck da Casa de Ieda dividia o protagonismo com os gelados da Escola Sorvete, do chef Francisco Sant’Ana.
Na mesma ala, outros produtores viram seus produtos se esgotarem, caso da farinha de mandioca Cruzeiro do Sul.
O gerente de comunicação Frederico Bastos, de 39 anos, viveu a experiência do Fartura pela primeira vez. “Quero provar tudo que puder e aprender a fazer o macarrão de comitiva [do chef Lucas Caslu, do Mato Grosso do Sul].”
A harmonização ficou por conta do bar de vinhos Adega, que vendeu cerca de 500 garrafas. “O número de taças vendidas superou as expectativas”, diz Felipe Granata, 33, gerente de ecommerce da Adega.
Preocupados com o montante de lixo, garfos e pratos eram biodegradáveis. A estimativa da produção do evento é de que 70% de todos os resíduos vão para a reciclagem.