Após 11 temporadas, The Walking Dead chega ao fim neste domingo (20) com a exibição de seu último episódio. Ex-hit da TV paga, a série de zumbi fez história, mas viu a sua audiência derreter com o passar dos anos. A queda, no entanto, não a impediu de se tornar um marco na cultura pop.
Embora histórias de apocalipse zumbi e guerra contra mortos-vivos não fossem novidade quando The Walking Dead chegou à TV, no já longínquo 2010, a série se tornou um hit quase instantâneo. Criada por Frank Darabont, que deixaria o posto de chefão logo na segunda temporada, a atração adaptava os quadrinhos de Robert Kirkman e mostrava um mundo no qual a sociedade caiu após um vírus mortal atingir a população.
Mesmo com apenas seis episódios, o primeiro ano da série intrigou o público ao ter tempo o bastante para explorar as possibilidade de um mundo no qual os zumbis são dominantes. Jogados para o fundo da cadeia alimentar, os humanos perderam o controle da sociedade e viram a barbárie dominar o que restou de suas comunidades.
No centro disso, um grupo de sobreviventes liderado pelo xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln), que acordou de um coma para descobrir que não apenas os zumbis “dominaram” o mundo como o seu melhor amigo estava dormindo com sua mulher. Para os que acompanharam a série desde o início, o drama envolvendo o triângulo amoroso entre Rick, Shane (Jon Bernthal) e Lori (Sarah Wayne Callies) foi apenas a ponta do iceberg de uma história muito mais complexa e se mostraria cheia de nuances e (muita) violência.
Além de Rick, personagens como Daryl (Norman Reedus), Maggie (Lauren Cohan), Glenn (Steven Yeun), Michonne (Danai Gurira) e até Carol (Melissa McBride), que no início era apenas uma mãe desesperada em busca da filha, se tornaram o centro das atenções em fóruns e redes sociais. A audiência da série aumentava a cada temporada, mesmo com mortes chocantes que marcavam a despedida de algum queridinho dos fãs.
O ápice dramático de The Walking Dead viria com a estreia do sétimo ano, no qual 17 milhões de pessoas assistiram ao recém-chegado vilão Negan (Jeffrey Dean Morgan) destruir sem dó os crânios de Glenn e Abraham (Michael Cudlitz). A sequência, uma das mais aguardadas dos fãs da HQ, surpreendeu pela estética fiel aos quadrinhos e pelo choque de ver uma dupla tão querida morrer de maneira assombrosa.
A icônica cena de Negan (Jeffrey Dean Morgan) e seu bastão Lucille
Divulgação/AMC
O episódio que marcou o recorde da série, no entanto, também foi o início de uma derrocada surpreendente. Sob o comando do ex-showrunner Scott M. Gimple, a sétima temporada de The Walking Dead ficou marcada como o fundo do poço da atração, com episódios escritos para “encher linguiça” e muitas histórias paralelas que não acrescentavam nada para quem ansiava por uma batalha sangrenta entre Rick e Negan.
Para resgatar a atenção do público que fugiu em debandada, Angela Kang assumiu o comando criativo da série a partir da nona temporada e logo de cara precisou descascar um abacaxi do tamanho dos Estados Unidos. Andrew Lincoln e Lauren Cohan, cada um com seus motivos, pediram para deixar a atração naquele ano. A fórmula encontrada para lidar com a ausência de dois de seus principais personagens foi um salto no tempo de cinco anos e a introdução de novos rostos como forma de explorar caminhos inéditos dentro de um mundo que vivia o apocalipse zumbi há um bom tempo.
Em termos narrativos, a mudança surtiu efeito. A trama engessada e arrastada dos anos anteriores ficou para trás e abriu espaço para novos momentos marcantes da série, como a chegada dos Sussurradores e a carnificina orquestrada pela vilã Alpha (Samantha Morton).
Apesar dos esforços, contudo, a audiência surpreendente de temporadas anteriores jamais voltou, e The Walking Dead bateu recordes negativos a cada semana. Em comparação com os 17 milhões que assistiram à estreia do sétimo ano, apenas 4 milhões ligaram suas TVs nos Estados Unidos para acompanhar o primeiro episódio da 10ª temporada.
Com sua principal série decadente, a AMC não viu outra opção senão encerrar a trama da série mãe em sua 11ª temporada. Com 24 episódios, oito a mais do que os tradicionais 16, o último ano do drama zumbi teve bons momentos, mas continuou desequilibrado e não escapou de algumas histórias feitas para encerrar arcos desnecessários e levar do famigerado nada a lugar algum. O resultado? A audiência continuou derretendo e chegou a ficar abaixo dos 2 milhões de espectadores.
Negan (Jeffrey Dean Morgan) e Maggie (Lauren Cohan) em cena do último episódio de The Walking Dead
Divulgação/AMC
O fim que não é o fim
Intitulado Rest in Peace (Descanse em Paz, em português), o episódio deste domingo marca o fim de The Walking Dead, mas o universo da franquia está longe de terminar. Enquanto Fear the Walking Dead tem um oitavo ano assegurado, com o retorno da protagonista Kim Dickens, outros três spin-offs estão em desenvolvimento e trarão de volta alguns dos principais personagens da série original.
The Walking Dead: Dead City vai reunir os ex-rivais Maggie e Negan em uma trama que os levará até uma Nova York dominada por zumbis; The Walking Dead: Daryl Dixon, como o próprio título revela, mostrará o galã silencioso se aventurando pela França para enfrentar um novo tipo inteligente de morto-vivo; e The Walking Dead: Rick & Michonne vem para tapar o buraco deixado pelos três filmes sobre o xerife que foram anunciados oficialmente, mas nunca viram a luz do dia.
Com o futuro desenhado, a franquia The Walking Dead chega ao fim como uma mera sombra do que já foi. Mas isso não diminui em nada a sua contribuição para a cultura pop. Mesmo que não seja recordista de Emmys como Game of Thrones (2011-2019), o drama de zumbi já tem lugar cativo no imaginário do público e na prateleira das séries mais importantes do século 21.