O especial de fim de ano do Portas dos Fundos chega à Paramount+ hoje. Pela primeira vez, o filme não ironiza uma história religiosa, nem cutuca um assunto polêmico. Fábio Porchat conta que essa mudança não tem relação com os ataques sofridos pela equipe nos últimos anos.
“Se a gente tivesse medo de ataques, a gente teria parado em 2020 quando jogaram bomba na gente. Se depois de bomba a gente continuou, não seria agora que ia parar”, assegura Porchat, que assina o roteiro com Jonathan Marques.
Desta vez, eles apostam em um filme de terror com direito a Papai Noel morto, duendes vingativos e muito sangue. Em conversa com Splash durante as gravações do especial em agosto, no Rio de Janeiro, Porchat revelou querer fugir do que é esperado sobre o Porta dos Fundos.
“É terror. É um especial de Natal que não é religioso. Ninguém esperava. Essa é a ideia que vem a minha cabeça. Eu gosto de tentar fazer alguma coisa que nos tire do lugar comum. Ano passado, a gente fez desenho. Antes, um documentário bem político. E outra: a gente nunca fez um especial de fim de ano sobre o Papai Noel. A gente não fez o mais óbvio”, diz, aos risos.
Parti da ideia: se eu matasse o Papai Noel e ele resolvesse se vingar? Eu já destruí o Natal dos adultos, agora vou destruir das crianças também. É o espírito do Natal se vingando com toda a potência desses seis amigos que odeiam a data.
“O Espírito do Natal” narra a história de seis amigos que decidem passar o feriado em uma cabana isolada no meio da floresta. Lá, Gabi (Thati Lopes) assassina o Papai Noel (Orã Figueiredo) sem querer e coisas assustadoras começam a acontecer. Além de Porchat e Thati, Rafael Portugal, Evelyn Castro, Antonio Tabet e Raphael Logam completam o sexteto que odeia o Natal.
“Esse ano não tem tema polêmico, não. É para a galeria assistir, rir no início e, depois, só terror. Vai causar susto. A gente está fazendo de verdade. Não é ‘terrir’ (junção de terror com humor), a gente está fazendo um terror que dá medo, que dá susto. Claro que vai ter risada quando você ver a rena partindo para cima deles, os elfos canibais correndo. Acaba que é engraçado, mas é para a gente tomar susto”.
Ao contrário do ponto de partida do especial, Fábio conta que ama o Natal. As histórias narradas no filme foram inspiradas no que ele já ouviu dos outros.
“Acho o Natal divertidíssimo. Gosto de tudo, uva passas no arroz, rabanada e até a piada do pavê. Gosto de receber e dar presente, encontrar a família, sempre foi assim na minha casa… Mas tem tempo que não passo o Natal em casa porque é a única época do ano que tenho para viajar. Quando me liberam no dia 20 ou 21, eu vou me embora para onde for. Meus últimos Natais foram no Egito, no Vietnã, na Costa Rica, em Botsuana, no Quênia”.
O especial de Natal de 2022 é um filme que não traz polêmicas religiosas, nem políticas, além de ter uma história universal. O diretor, Rodrigo Van Der Put, acredita que a história centrada no Papai Noel pode agradar brasileiros e gringos, assim como “Se Beber Não Ceie”, especial de 2018 que ganhou o Emmy Internacional.
“O Porta bombou, pela primeira vez, há dez anos, em uma noite de Natal. As famílias se juntaram para ver um vídeo do Porta. Houve um pico de audiência naquela noite, nem era especial, era só uma esquete. A gente espera que as pessoas se unam novamente par ver, polarizadas (politicamente) ou não, e se divirtam com uma comédia universal. O filme tem duende, Papai Noel, renas… Tem a magia de Natal, mas com o texto do Porta”.
Especiais de Natal com temas religiosos podem voltar no futuro. Porchat garante que a produtora de vídeos não abandonou a temática. Pelo contrário, eles ainda ironizam assuntos religiosos em esquetes ao longo do ano.
“Ano que vem a gente pode fazer de novo, mas achei que as pessoas podiam se surpreender com o terror… É tentar fazer as coisas mais distantes possíveis se aproximarem. A comédia faz isso. Ela puxa o tapete. Quando você olha para um lado, o comediante olha para o outro”.
“O Espírito de Natal” traz terror trash associado ao humor debochado do Porta dos Fundos. As primeiras cenas são mais cômicas e trazem frases engraçadas dos seis amigos que odeiam o Natal. “Dizem que na Record não pode falar do Papai Noel” e “Não acontece nada no Natal, só a Simone que fica rica com direitos autorias” são algumas delas.
Reprovação sobre a ceia natalina, histórias familiares duvidosas, incluindo separação de pai e mãe após traição na noite de Natal, também marcam o começo do roteiro. Na sequência, em uma noite do jogo Verdade x Consequência, o clima de humor começa dar lugar ao terror.
A produção tem elementos que um filme de terror natalino precisa: morte a facada provocada pela Mamãe Noel (Sura Berditchevsky), personagem devorado por duendes, homem esmagado por um trenó, o que causa um derramamento de sangue, duende incendiado… Todas as cenas exigiram um maior trabalho de pós-produção. “Dá trabalho quando entra sangue e tem ataque”, enfatiza Porchat.
Dos seis amigos, apenas uma sobrevive: Gabi, a responsável por matar o Papai Noel. Ela foge dos duendes, comandados por Gregorio Duvivier, pela mata, até pedir socorro a um motorista (João Pimenta) em uma estrada.
Porta dos Fundos – “O Espírito de Natal”
Roteiro: Fábio Porchat e Jonathan Marques.
Direção: Rodrigo Van Der Put
Quando ver: a partir de 21 de dezembro
Onde ver: Disponível na Paramount +
Duração: 35 minutos