A indústria das mídias sociais nunca teve uma plataforma em que seu principal executivo é também o mais popular na rede. O que isso pode significar para o empresário e para a empresa?
Terça-feira, dia 17 de janeiro de 2023. Esse é o dia em que Elon Musk se tornará o influenciador número um do Twitter, segundo previsões de analistas.
Com 120 milhões de seguidores, a conta @ElonMusk já é a segunda mais seguida das redes sociais, atrás apenas de @BarackObama, do ex-presidente dos Estados Unidos, que tem 130 milhões.
Segundo estatísticos da Social Blade, uma plataforma que reúne métricas de redes sociais, após um aumento meteórico em sua popularidade desde que comprou o Twitter, Musk inevitavelmente ultrapassará os números de Obama.
A indústria das mídias sociais nunca teve uma plataforma em que seu principal executivo é também o mais popular na rede. O que isso pode mudar para ele e para a rede social?
Musk ganha 270 mil seguidores por dia
Apesar das recentes controvérsias, a popularidade de Musk no Twitter é inegável e crescente.
Nos últimos 12 meses, ele ganhou 268.303 seguidores por dia, em média, de acordo com a Social Blade, e perdeu seguidores em apenas cinco dias, que podem ser vinculados a algumas notícias.
Ele perdeu quase 200 mil seguidores em 12 de novembro, quando grandes cortes de empregos foram anunciados no Twitter — e como é provável que ele tenha ganhado novos seguidores naquele dia também, o número real de pessoas que pararam de segui-lo deve ter sido muito maior.
“Elon Musk é agora o personagem principal no Twitter”, diz o analista de mídias sociais Matt Navarra.
“De certa forma, ter um diretor-executivo que é um grande influenciador na plataforma tem algumas vantagens, porque ele se torna muito acessível para as pessoas”.
Poucos grandes executivos de mídias sociais são fortes influenciadores em seus próprios sites.
O presidente da Meta, Mark Zuckerberg, também é uma celebridade — mas não posta tão ativamente no Facebook e suas postagens têm um tom mais corporativo, diz Navarra.
Mas o fato de o Twitter estar tão intimamente ligado a Musk, um personagem controverso, pode ser um problema para a empresa.
“Ele é muito antagônico e inflamatório e, alguns podem até dizer, bastante tóxico”, diz Navarra. “Para as marcas, ele pode ser visto como potencialmente muito perigoso.”
A consultora de tecnologia Kate Baucherel diz: “Envolver a personalidade do CEO na personalidade da plataforma compromete qualquer neutralidade ou diversidade. Um homem branco residente nos Estados Unidos não representa o mundo.”
Musk está tuitando 76% a mais desde que comprou o Twitter
Já conhecido como um “tuiteiro” prolífico, Musk aumentou em 76% seu volume de postagens desde que comprou a plataforma, de acordo com a Social Blade.
Somente na terça-feira, 22 de novembro, ele disparou 75 tuítes, incluindo postagens, respostas ou retuítes. É um recorde para ele.
“É ótimo ter um CEO que usa o produto”, diz um ex-gerente de produtos do Twitter, que preferiu permanecer anônimo.
Mas ele ressalva: “Acho que as pessoas que tuítam muito são viciadas, e possivelmente narcisistas. Nenhuma pessoa sozinha tem coisas interessantes o suficiente para dizer ao mundo inteiro a ponto de tuitar mais de cinco vezes por dia.”
Em média, Musk agora tuíta uma vez a cada 15 minutos durante o período padrão em que uma pessoa fica acordada. Às vezes, ele posta em horários incomuns, inclusive às 2h da manhã.
Os especialistas com quem conversamos disseram que ter um CEO imerso em sua plataforma pode ser bom, mas todos concordaram que o tipo de conteúdo que Musk está postando pode ser problemático.
Tuítes recentes do novo dono da rede social incluem imagens sexuais e palavrões. Respondendo a críticas que diziam que ele estava matando o Twitter, Musk postou um meme de um homem sorrindo ao lado de um túmulo.
Navarra diz que Musk é um grande motivador de engajamento para o Twitter e que sua atividade recente na rede trouxe um número significativo de novos usuários ou reativou os antigos.
“Temos apenas que olhar para outro personagem que compartilha uma quantidade alarmante de semelhanças com Elon Musk, que é Donald Trump“, diz ele.
“Trump também foi um grande impulsionador da atividade e do engajamento com seus tuítes, e tenho certeza que isso foi positivo para o Twitter.”
“Mas eu também diria que ele provavelmente foi negativo considerando os problemas que trouxe para a moderação de conteúdo. Elon Musk está tendo um efeito semelhante na plataforma.”
O Twitter suspendeu permanentemente o presidente Trump após o ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, em janeiro de 2021. A rede social justificou a medida falando em “risco de maior incitação à violência”.
Musk restabeleceu a conta de Trump em 19 de novembro, após uma enquete sobre o assunto no Twitter, mas o ex-presidente americano não postou após sua conta ter sido reativada.
Musk segue apenas 130 contas
Apesar de ter ganhado mais de 8,6 milhões de seguidores desde que comprou o Twitter, o próprio Musk seguiu apenas sete novas contas nesse período — elevando o total que ele segue para 130.
O fundador do Twitter, Jack Dorsey, seguia cerca de 3.500 pessoas quando era presidente-executivo. O ex-presidente Barack Obama segue 570 mil.
Para analistas, acompanhar tão poucos seguidores limita a visão de Musk sobre o que as pessoas estão falando na rede social.
“Ele não tem ideia de qual é a experiência de usuários normais”, diz o ex-gerente do Twitter.
“Por exemplo, ele nunca vê anúncios — porque limitamos a quantidade de publicidade exibida aos 1.000 principais usuários ou mais. Portanto, ele não tinha uma compreensão sobre essa parte do produto antes de comprar o Twitter.”
Musk teria dito à equipe de marketing do Twitter que os anúncios deveriam “parecer tuítes”, quando os anúncios da empresa na verdade já eram tuítes.
O ex-gerente do Twitter também diz que a experiência distorcida de Musk como um grande influenciador pode impedi-lo de entender como melhorar a rede e fazê-la crescer.
O Twitter é menor do que outras redes sociais e “o tempo médio gasto foi uma limitação severa ao nosso crescimento e aos negócios publicitários”, diz o ex-gerente entrevistado.
“As pessoas que são usuárias comprometidas passam muito tempo na rede, mas é preciso encontrar uma maneira de aumentar o tempo que a maioria dos usuários gasta.”
Elevar o número de usuários do Twitter para um bilhão é um dos principais objetivos de Musk.
Hoje, há cerca de 300 milhões — que, no ritmo atual, é o número de seguidores que o próprio Musk terá daqui a dois anos, segundo projeções da Social Blade.
– Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63789171