Imaginou-se que a emoção não teria espaço no mundo macho e triunfalista de Bolsonaro. Mas eis que o infortúnio eleitoral abriu uma fenda —mesmo que cenográfica— na carapaça que parecia inexpugnável. O capitão chorou. Verteu lágrimas em público, num evento militar. Descobre-se de repente que os imbrocháveis também choram.
O pranto de Bolsonaro não chegou a produzir espanto. Muitos devem ter reprimido um sorriso interior. Alguns ouviram uma voz no fundo da consciência exclamando: “Farsante!” A memória dos mortos da pandemia atiçou instintos primitivos. “E daí?”, muitos se perguntam. “Precisa enfrentar a morte eleitoral “como homem”, não como “maricas”. A essa altura, a máscara de sofredor não lhe cai bem.
Diz-se que Bolsonaro está deprimido. A depressão, no seu caso, é o preço total —com juros, multa e correção monetária— cobrado por 60 milhões de eleitores, de uma vez só, de alguém que não pagou suas parcelas de autocrítica nos últimos quatro anos.
No dia 7 de setembro 2021, num comício antidemocrático na Avenida Paulista, Bolsonaro declarou que só Deus o tiraria do Planalto. “Só saio, preso, morto ou com a vitória. Direi aos canalhas que eu nunca serei preso”. Vivo e derrotado, o capitão perderá em 25 dias a blindagem do cargo e o escudo de Augusto Aras.
Colecionador de processos, Bolsonaro deve ter receio de ser espremido nos 10 metros quadrados de uma cela. Por isso tenta adaptar o seu versículo predileto: “Conhecereis o chororô e o mimimi vos libertará!” Talvez devesse trocar um dedo de prosa com Valdemar Costa Neto. O dono do PL é especialista em recintos fechados.