O Telescópio Espacial James Webb continua fascinando e surpreendendo. Em trabalho recente anunciado por uma grande equipe internacional, cientistas anunciaram a possível detecção de grãos de poeira em uma galáxia distante. Se confirmada, a descoberta é a mais longínqua do tipo já observada, e desafia nosso entendimento atual de como esses grãos devem se formar.
A luz da galáxia JADES-GS-z6-0 levou quase 13 bilhões de anos para chegar até nós, o que significa que o universo tinha apenas 800 milhões de anos quando a luz foi emitida. A surpresa da descoberta seria justamente o pouco tempo de formação da poeira observada.
Para inferir a presença da poeira, a equipe liderada por Joris Witstok, da Universidade de Cambridge, utilizou a chamada técnica de espectroscopia para dividir a luz recebida da galáxia em diversas cores. Os dados mostraram que parecia faltar luz em uma determinada cor ultravioleta.
As observações são possíveis apenas graças ao poder observacional do telescópio espacial James Webb. Ao atravessar o universo, a luz ultravioleta emitida é transformada em radiação infravermelha, à qual esse telescópio é muito sensível.
A deficiência vista é um sinal claro da presença de poeira em galáxias próximas. Esses grãos, formados tipicamente por átomos de carbono, absorvem preferencialmente essa cor, deixando uma assinatura clara nas observações.
O mistério está na origem do carbono.
Nossos modelos preveem que ele é formado preferencialmente no interior estrelas que levam mais de 1 bilhão de anos para morrer, soltando os elementos na sua vizinhança. No entanto, se o universo tinha apenas 800 milhões de anos nessa época, não deveria haver tempo suficiente para que o carbono seja formado.
Outro problema é entender como a poeira poderia ter sobrevivido nesses ambientes. Mesmo se houver outro caminho para a formação dos grãos, também sabemos que as galáxias no começo do universo eram lugares hostis, com uma enorme produção de radiação por suas estrelas jovens.
Os modelos preveem que essa radiação rapidamente destruiria os grãos de poeira ali, mas as novas observações parecem colocar essa ideia em cheque.
É interessante notar que o James Webb não apenas nos permite ver mais longe, mas também está desafiando o que achávamos que sabíamos sobre o nascimento das primeiras estrelas e galáxias do universo.
Fico imaginando como será refletir sobre esses primeiros resultados do observatório daqui a 20 ou 30 anos, e pensar como estávamos tão enganados.