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como ciência explica surto em crianças no Japão

como ciência explica surto em crianças no Japão

Este mês, completou 25 anos do “Pokémon Shock” — um fenômeno inesperado no Japão que chamou a atenção de médicos, cientistas e investigadores do mundo todo.

No início da noite do dia 16 de dezembro de 1997, 685 crianças tiveram um ataque de epilepsia enquanto assistiam ao 38º episódio do desenho animado japonês Pokémon. Alguns dias depois, subiu para 12 mil o número de crianças com algum tipo de adoecimento — tontura, vômito e dores de cabeça, provocado pelo mesmo episódio do anime.

O fenômeno, conhecido como “Pokémon Shock”, foi provocado após o personagem Pikachu lançar um ataque relâmpago, que foi seguido de luzes piscando em vermelho e azul a uma taxa de 12 Hz por seis segundos — técnica de animação conhecida como paka paka. Inicialmente, acreditava-se que apenas crianças fotossensíveis pudessem ter sido afetadas.

Na época, os produtores de Pokémon chegaram a ser interrogados pela polícia e autoridades japonesas realizaram diversas reuniões emergenciais para investigar o caso. O preço das ações da Nintendo, a empresa por trás da franquia, caiu 3,2%

O mistério médico foi caindo no esquecimento, já que não encontrava uma explicação plausível, fruto de uma doença orgânica, por exemplo.

Até que, quatro anos depois, o escritor Benjamin Radford — que na época era pesquisador do Committee for Skeptical Inquiry nos Estados Unidos e apresentador de um podcast sobre investigação — resolveu se debruçar sobre o caso, junto ao sociólogo médico Robert Bartholomew.

Afinal, o que realmente aconteceu?

Avaliando o desenrolar da linha do tempo de um fenômeno que atingiu milhares de crianças durante vários dias seguidos, os Radford e Bartholomew concluíram que, na verdade, houve aquilo que chamamos atualmente de “surto coletivo”, cientificamente chamado de doença psicogênica em massa — quando diversas pessoas, normalmente crianças e adolescentes, são atingidos por sintomas sem uma causa orgânica definida.

É mais ou menos como se fosse um “vírus emocional” que afeta um grupo de pessoas de um mesmo grupo — ou seja, que consome o mesmo tipo de conteúdo ou está submetida a uma mesma situação, manifestando-se através de sintomas físicos reais e se espalhando rapidamente naquele grupo.

Os cientistas também usam o termo “histeria em massa” para se referir ao fenômeno. “As pessoas podem ficar doentes a partir de nada mais do que uma ideia”, declarou Benjamin na época.

Para justificar suas conclusões, os profissionais afirmaram que a maioria das crianças afetadas ficou doente após ouvirem sobre os efeitos do anime e não exatamente assistindo ao episódio.

De fato, no dia 16 de dezembro de 1997, 685 crianças tiveram convulsões durante a transmissão do desenho animado, mas o número só subiu para 12 mil crianças afetadas após os comentários sobre o episódio virarem comoção nacional no Japão.

Mais comum do que se imagina

Embora haja alguns tabus em relação à doença psicogênica em massa e seus sintomas sejam pouco compreendidos, já existe muita literatura científica sobre o assunto. Há diversos casos na história, sendo um dos mais conhecidos como o episódio do periódico de rádio a “Guerra dos Mundos”, de Orson Welles, que causou pânico em massa nos EUA.

Em abril deste ano, 26 alunos de uma escola estadual no Recife (PE) passaram mal no que ficou diagnosticado como uma crise de ansiedade coletiva provocada aparentemente pelo período de provas.

Os adolescentes tiveram falta de ar, tremores, crises de choro e precisaram ser socorridos por uma unidade móvel de saúde. Na ocasião, a equipe médica verificou que os alunos apresentavam sudorese, saturação baixa e taquicardia, e alguns chegaram a desmaiar.

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