Nas lojas de carrinhos de brinquedo, em qualquer parte do mundo, há réplicas da Volks, Ford, GM, Fiat e Mercedes. Com sorte, você poderá achar um Toyota entre as miniaturas, mas certamente nenhuma marca chinesa. O fenômeno deve-se ao fato de a China ter perdido a corrida dos carros a combustão. Quando a China se industrializou e criou marcas próprias, a indústria automobilística da Europa e dos EUA estava plenamente consolidada.
No novo mundo dos carros elétricos (EV, na sigla em inglês), no entanto, o jogo é outro.
A maior fabricante mundial de EVs, aliás, não é a Tesla, mas a chinesa BYD.
Em 2022, a BYD vendeu 640 mil unidades de carros leves, só no primeiro semestre do ano.
A companhia de Elon Musk ficou bem atrás, com 400 mil unidades comercializadas —e muitas delas para o mercado chinês.
Logo depois, aparecem Toyota, GM e Volks.
Os dados são da EV-Volumes, consultoria europeia que consolida dados deste mercado.
Ainda segundo a EV-Volumes, ao longo do último ano, os chineses produziram 6,7 milhões de veículos totalmente elétricos.
O número é precisamente 1,8 vezes maior que os 2,6 milhões de EVs feitos na América do Norte (incluindo, além dos Estados Unidos, o Canadá e o México) e os 1,1 milhão montados na União Europeia.
Quando observados os dados de vendas e uso de carros elétricos, a vantagem chinesa é ainda mais expressiva.
No país asiático, mais de 20% da frota nacional é elétrica, o que representa 59% de todo o mercado mundial de EVs.
Em outras palavras: a cada 10 carros elétricos rodando no mundo, 6 o fazem em ruas e estradas da China. Os demais 4, em qualquer outra parte do mundo.
Para bem além de Tesla e BYD, marcas como Li Auto, Xpeng, Changan e Great Wall Motors disputam a preferência do consumidor doméstico chinês, formando um rico ecossistema de mobilidade que dispensa combustíveis fósseis.
Os benefícios para o meio ambiente são visíveis a olho nu —no sentido literal da expressão.
Em Pequim, cidade de céu permanentemente cinza ao longo das décadas de 2000 e 2010, a redução de veículos a combustão, nas ruas, permitiu que o Sol voltasse a brilhar em um céu de azul límpido.
Mais do que uma estratégia industrial (liderar o mercado mundial de carros elétricos), a China aposta nesta matriz de mobilidade para reduzir sua dependência de petróleo. Atualmente, o país é o segundo maior consumidor do mundo, respondendo por 15% de toda demanda global pelo óleo.
A fome chinesa pela commodity só é menor que a americana; os Estados Unidos, sozinhos, respondem por 21% de todo consumo do produto no mundo.
Apenas para efeito de comparação, depois da dupla EUA-China, os maiores consumidores mundiais (Índia, Japão e Rússia) detém entre 5% e 4%, cada um, de todo consumo global. Os dados são da agência americana de energia, US Energy.