A seleção brasileira já mostrou reações distintas em momentos importantes nos quais não pôde contar com Neymar.
Em 2014, quando ele se machucou nas quartas de final da Copa do Mundo, a sequência foi desastrosa. Sua ausência não foi o único motivo, mas a partida seguinte foi a histórica derrota por 7 a 1 para a Alemanha no Mineirão, em Belo Horizonte.
O técnico Luiz Felipe Scolari optou na ocasião por substituir o camisa 10 por Bernard. Entendeu que deveria optar por um jogador de características de alguma maneira semelhantes às do titular em vez de reforçar o meio-campo, amplamente dominado pelos visitantes.
Cinco anos depois, em 2019, Neymar sofreu lesão às vésperas da Copa América. A competição, também disputada no Brasil, não tinha a mesma importância, porém a reação do elenco foi muito melhor –pior seria difícil.
Sem o principal nome em campo, alguns jogadores assumiram responsabilidade maior a caminho do único título do Brasil sob comando de Tite. Entre jovens como Everton Cebolinha, hoje fora do grupo, e veteranos como Daniel Alves, atual reserva, vários supriram a carência do líder técnico.
No Qatar, a equipe verde-amarela se vê novamente sem Neymar, que lesionou o tornozelo direito na primeira rodada do Mundial, na vitória por 2 a 0 sobre a Sérvia, e ficará afastado ao menos de toda a fase de grupos. É a hora de o time de 2022 mostrar sua cara.
Isso será feito a partir das 13h (de Brasília) desta segunda-feira (28). O Brasil enfrentará a Suíça no estádio 974, em Doha, e, para demonstrar que essa cara é boa, conta com uma geração que parece ter diminuído sensivelmente a dependência de seu craque.
Na estreia, antes mesmo da lesão do camisa 10, destacaram-se jogadores como Vinicius Junior e Richarlison, este autor dos dois gols. Neymar não esteve em noite das mais inspiradas, foi caçado– sofreu nove faltas, mais do que qualquer outro na Copa na primeira rodada– e sucumbiu.
Bem ou mal, o atacante de 30 anos atrai a atenção. E acaba oferecendo maior liberdade aos companheiros. Em sua ausência, os homens de frente vão dividir os holofotes que tinham uma direção específica.
Os suíços procuraram dizer que sua preparação não foi alterada com a lesão do rival, no que não se mostraram particularmente convincentes. “Há muita qualidade em campo. Não durmo melhor por saber que o Brasil vai jogar sem Neymar”, afirmou o zagueiro Nico Elvedi.
O defensor ecoou o discurso de seu comandante, Murat Yakin. “Vamos enfrentar um adversário que, penso eu, também tem jogadores fortes no banco. Eles podem definitivamente organizar duas ou três equipes diferentes. Não ficarão mais fracos por causa disso”, disse o técnico.
Yakin não teve a confirmação do time que enfrentará. Sem Neymar e também sem o lateral direito Danilo, outro que teve lesão no tornozelo e foi descartado da primeira fase, Tite não divulgou a formação verde-amarela.
“Tenho por hábito, de agora [risos], passar [a escalação] na hora do jogo”, brincou o gaúcho, que costumava divulgar previamente os 11.
Na lateral, apesar dos elogios ao veterano Daniel Alves, 39, a opção deverá ser pelo zagueiro Éder Militão, que já atuou na direita em alguns momentos da carreira. Suas funções serão mais defensivas e de início das jogadas.
Na vaga de Neymar, que vinha atuando como um ponta-de-lança atrás do atacante Richarlison, Rodrygo significaria a mudança mais simples, por ser o membro do elenco que reúne características mais semelhantes às do habitual dono da posição. E ele ganhou elogios do chefe.
Mas o jovem de 21 anos nunca foi titular da seleção de brasileira, inexperiência que gera preocupação. Por isso, no último treino preparatório para o confronto com a Suíça, a opção mais ensaiada foi com a entrada do volante Fred. Assim, Lucas Paquetá foi adiantado no meio-campo.
“Futebol é um contexto. E às vezes é estratégico em relação ao adversário. São ajustes que podem ser executados, com uma ou outra formação”, disse Tite, observando que os acertos não são na base do improviso. “A equipe já tem um histórico, não é nenhuma novidade. Tem um histórico e uma forma de jogar. Ela tem três ajustes que faz, não vai mudar.”
O treinador procurou demonstrar confiança de que não ficará sem Neymar por muito tempo. Afirmou que o jogador ainda vai atuar na Copa do Qatar. Baseado, segundo ele, no que dizem os médicos da seleção.
De acordo com o zagueiro Marquinhos, os dois lesionados têm passado “24 horas fazendo fisioterapia”.
O retorno, porém, ainda é uma incógnita. E, na volta, a parada forçada pode atrapalhar. Isso já foi um problema em 2018, na Rússia, quando Neymar chegou ao Mundial em recuperação de uma lesão no dedinho do pé. Não conseguiu brilhar como se esperava e foi bastante criticado pelo tempo que permaneceu caído no gramado.
No momento, e no futuro próximo, o principal nome do time não está à disposição. Uma oportunidade para gente como Vinicius Junior, Raphinha, Paquetá, Rodrygo e Richarlison mostrar a sua cara no principal campeonato de futebol do planeta.