Não é que o crime não compensa. A questão é que, quando compensa, ele muda de nome. No momento, o crime se chama Jair Bolsonaro. O presidente vive em estado crônico de criminalidade. Já não presidente a República. Dedica-se a presidir impunemente a organização criminosa do golpismo. Sabe que não conseguirá virar a mesa, revertendo o resultado da eleição. Insiste na pose de vítima de uma grande fraude do sistema para se manter politicamente vivo.
No seu penúltimo lance, Bolsonaro usa o PL, partido de Valdemar Costa Neto, como cúmplice. Opera para criar uma atmosfera capaz de prolongar pelo menos até a posse de Lula a efervescência das ruas. Isso inclui esticar o cerco antidemocrático aos quartéis e estimular o bloqueio ilegal de rodovias. Nos últimos dias, a ação ganhou contornos terroristas —com tiros, queima de posto de pedágio e destruição de veículos.
Em termos jurídicos, a representação protocolada por Valdemar no TSE flerta com dois crimes: litigância de má fé, quando alguém recorre à Justiça valendo-se de argumentos viciados, com objetivos escusos. O vício da petição do PL é a mentira sobre as urnas. A finalidade escusa é a fabricação de instabilidade política. Valdemar é apenas mais um elo da corrente de transgressão que Bolsonaro arrasta pela conjuntura —inclui o pedaço das Forças Armadas que o capitão chama de “minhas”, o agrogolpismo, a milícia digital e uma legião de inocentes inúteis.
Alexandre de Moraes, o presidente do TSE, expôs Valdemar ao ridículo no instante em que deu 24 horas para que o ex-mensaleiro inclua em sua contestação as urnas do primeiro turno. São as mesmas que foram usadas no segundo round. A única diferença é que, na primeira rodada, o partido de Valdemar elegeu os 99 deputados federais que lhe darão as maiores fatias na partilha dos fundos partidário e eleitoral. Não basta ridicularizar. Seria necessário impor à organização criminosa comandada por Bolsonaro os rigores da lei. Mas o crime compensa no Brasil.