Apoiadores insatisfeitos com a derrota do presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), entoam hoje gritos de “intervenção federal” em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília. Apesar da chuva na capital federal, manifestantes se aglomeram em frente à praça dos Cristais.
Por medida de segurança, o perímetro foi isolado pelos militares. Até 10h45, o trio elétrico contratado para o protesto não havia sido autorizado a entrar.
Fraude? Vários participantes do ato carregam faixas com pedidos de uma ruptura da democracia. Em dado momento, um grupo começou a cantar um apelo para que praças e oficiais “saiam do quartel e cumpram seu papel”. Abordada pela reportagem, uma mulher que se identificou apenas como Sônia reclamou de uma suposta fraude nas urnas —fato inverídico que é sustentado pela campanha de Bolsonaro.
“O país não teve eleições limpas. Não vamos admitir. O Exército precisa sair do quartel e nos proteger do comunismo”, declarou ela. Após a rápida fala, ela se juntou aos demais apoiadores que gritavam:
“Pela intervenção! Não vou bater continência para ladrão.”
Ataques ao STF. Durante a mobilização, os manifestantes pediram o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal), a prisão de opositores, e fizeram ataques ao presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), maior símbolo da rivalidade entre os bolsonaristas e a esquerda.
Alguns manifestantes disseram estar na praça dos Cristais, situada no Setor Militar Urbano de Brasília, desde a noite de ontem (2). A auxiliar de serviços gerais Mônica Crispim afirmou que “todo esforço vale a pena”, “apesar do cansaço”. “Não é por mim, é pelo país.”
Mobilização. Grupos de bolsonaristas se organizaram previamente e levaram barracas, mantimentos e proteção contra a chuva e o frio.
Até o momento, o contingente do Exército tem acompanhado a mobilização à distância, sem interferência. Grades foram afixadas dentro de um perímetro de segurança para isolar o quartel-general, nos arredores da concha acústica. Não houve registro de confusão ou de hostilidades.
Segundo um dos porta-vozes do ato, o principal argumento em defesa do governo, também utilizado para pedir intervenção federal ao Exército, é a “ilegalidade do processo eleitoral”. Com um megafone na mão, a liderança reclamou do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, e lembrou o episódio da acusação de fraude feita pela campanha de Bolsonaro a partir de dados controversos sobre inserções em rádios do Nordeste.
“A eleição foi fraudada, mas nossos irmãos nordestinos não têm culpa disso. A culpa é do senhor Alexandre de Moraes e dos ladrões do PT.”