Por anos, um dos maiores passatempos da extrema direita foi chamar movimentos sociais de vagabundos por seus acampamentos que reivindicavam o direito de plantar, o direito de morar e o direito de viver. Agora, a extrema direita passa semanas acampada em frente aos quartéis produzindo nada além de golpismo e algazarras que atrapalham os vizinhos. E chama a si mesma de “revolucionária”.
Nem todo mundo concorda com os métodos dos movimentos sociais, como as ocupações de terras griladas, de imóveis vazios pela especulação imobiliária ou de territórios tradicionais por indígenas, para forçar a ação do Estado. Mas muita gente compreende que suas reivindicações são justas. A mesma sociedade, contudo, vê com nojo a defesa de golpe militar para manter o perdedor das eleições no poder, ignorando a vontade do voto.
Nos acampamentos de movimentos, os trabalhadores não passam o dia sem fazer nada, ao contrário do que foi dito durante anos de difamação. Eles plantam ou saem para trabalhar.
É verdade que muitos dos que participam das micaretas golpistas em frente aos quartéis vêm e vão em turnos. Mesmo assim, é grande a quantidade de pessoas que gastam horas úteis na semana participando de atos contra a democracia. Imaginem se essas horas fossem adotadas em algo de bom para o Brasil, como a luta contra a fome?
Bombardeados pelas mentiras propagadas pelo presidente da República e seus aliados, os golpistas veem a si mesmos como membro de uma elite revolucionária de uma “primavera brasileira”.
Comparam-se a movimentos internacionais que visam a derrubar tiranos ou reestabelecer a democracia quando, na verdade, são eles que querem criar um ditador e atropelar as instituições.
A falta de percepção sobre isso não é pateticamente fofo como um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento, mas produz o que os alemães chamam de “fremdschämen” – o sentimento de vergonha alheia. E dado o desespero de alguns que começam a perceber que Lula subirá sim a rampa, confesso que também há um pouco de “schadenfreude” – o sentimento de satisfação diante do infortúnio alheio. Até porque o infortúnio deles é a sorte da nossa democracia.
Esses acampamentos de natureza golpista, que não produzem nada a não ser ameaças ao Estado de direito, precisam acabar urgentemente. Pois qnquanto o MTST ganha um prêmio da ONU por usar suas ocupações para servir mais de 1,5 milhão de refeições gratuitas a quem passa fome nas ruas, as ocupações golpistas têm promovido terror e violência.
Empresários bolsonaristas em Novo Progresso (PA) que bloqueavam a BR-163 atacaram carros da Polícia Rodoviária Federal com pedras e tiros em 7 de novembro. Caminhões foram incendiados em Itaúba (MT) para trancar a rodovia e dificultar o escoamento da produção em 21 de novembro. E ônibus e carros foram queimados, em Brasília, na última segunda (12), por bolsonaristas radicais, que também tentaram invadir a sede da Polícia Federal.
Milhares de pessoas conseguem permanecer na porta dos quartéis porque são apoiadas por doações de pessoas físicas e jurídicas. Sim, a indolência golpista não é sustentada pelo vento.
Investigações da Polícia Federal já levaram o Supremo Tribunal Federal a decretar ordens de prisão, de busca e apreensão e de bloqueio de contas. Mas ainda é pouco. O Brasil precisa desmobilizar esse golpismo antes da virada do ano.
É direito de qualquer brasileiro se manifestar por uma causa. Mas quando essa causa é o golpismo, torna-se obrigatório perguntar: quem, de fato, é o vagabundo?