Onze entre cada dez analistas financeiros apostavam que o Copom (Comitê de Política Monetária), manteria a taxa básica de juros (taxa Selic) no nível em que já se encontra, de 13,75% nominais ao ano. Doze entre cada dez deles também previam que o comunicado emitido no encerramento da reunião desta quarta-feira (7), a última de 2022 e na vigência do governo de Jair Bolsonaro, daria destaque às incertezas com a administração das contas públicas pelo futuro governo do presidente eleito Lula.
Traduzido do coponês – a linguagem para iniciados dos comunicados do Copom —, o Banco Central reforçou a possibilidade de extensão do atual ciclo de juros básicos elevados, e mesmo de alta na taxa Selic, em 2023. Ao ressaltar, no comunicado, que “acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal, o Copom pode ter tido a intenção de, sem mexer no nível dos juros básicos, promover um aperto monetário branco.
O comunicado, de fato, ressalta temores de que condições fiscais adversas desemboquem em elevação da dívida pública, com os consequentes efeitos negativos sobre a cotação do dólar, a inflação, o emprego e o crescimento econômico. Entre os riscos de alta da inflação, que, naturalmente, exigiriam altas de juros para combatê-los, o Copom destaca “a elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada”.
Para o BC, além de incertezas no campo fiscal, o mercado de trabalho está aquecido o suficiente para sustentar pressões altistas na demanda e, em consequência, na inflação. Há, porém, perspectivas baixistas para a inflação, no médio prazo.
Ainda que que, de acordo com as projeções compiladas e organizadas no Relatório Focus pelo Banco Central, a inflação só convergiria para o centro da meta em 2024, sua marcha, nos próximos dois anos, se as previsões se confirmarem, parece relativamente benigna. As perspectivas de esfriamento da atividade econômica, que recuaria para 0,75%, em 2023 e só avançaria 1,71%, em 2024, contribuem para esse prognóstico.
Também os cenários da economia internacional, pelo menos em relação a pressões inflacionárias, parecem sinalizar acomodação. Em que pese as incertezas, sobretudo com a volatilidade do câmbio, em reação ainda à guerra na Ucrânia e à evolução da atividade na China, a tendência é de desaceleração da economia mundial e queda nas cotações das commodities.