Os fãs Copa do Mundo do Qatar estão se acostumando a ver em todos os jogos anúncios publicitários nas laterais do campo e nos espaços em que atletas e treinadores concedem entrevistas, escritos em caracteres chineses, chamados localmente de “hanzis”.
Os anúncios, às vezes exibidos sem transliteração para nosso alfabeto, promovem marcas de eletrônicos chineses, como a desenvolvedora de smartphones Vivo (não confundir com a telecom do grupo espanhol Telefônica) e a desenvolvedora de telas LCD Hisense.
A primeira marca, a Vivo, certamente não é muito conhecida dos brasileiros, mas trata-se da 5ª maior vendedora de celular no mundo, com 10% de participação no mercado global.
A liderança, neste segmento, segundo a consultoria Canalys, é da Samsung, seguida pela Apple. Elas conquistaram, respectivamente, 21% e 17% das vendas no 2º trimestre de 2022.
Até aí, não há muita novidade, né?
O fato interessante é que as três marcas seguintes, no ranking, são todas chinesas: Xiaomi, OPPO e Vivo, cada uma com 14%, 11% e 10% das vendas globais.
Em um mundo normal, este ranking teria presença ainda maior das empresas chinesas, afinal, até 2019, a Huawei também figurava entre as maiores fabricantes do mundo, posição que derreteu depois que a empresa foi proibida, entre outras coisas, de embarcar o sistema operacional Android em seus dispositivos.
Também brilha na Copa a Hisense, que é a 2ª maior fabricante de TVs e telas LCD do mundo, atrás apenas da onipresente Samsung.
Além da Copa do Mundo, a Hisense patrocinou a Euro 2016 e torneios de tênis, como o Australian Open.
O que podemos compreender destes investimentos é que, além de serem conhecidas por ter melhor preço e especificações mais avançadas em seus produtos, as techs chinesas, nos anos recentes, fazem um grande esforço para tornarem-se marcas admiradas, associando-se a eventos esportivos de primeira classe, por exemplo.
Quem observa com atenção as placas da Copa, deve ter visto imagens da Wanda Group e Mengniu.
O primeiro é um conglomerado do segmento de imóveis, varejo e shopping centers, com (ainda) pouca presença fora da China, daí preferirem mostrar suas placas tantas vezes em hanzis e não em caracteres que possam ver compreendidos pela audiência global.
Fenômeno similar se aplica à fabricante de alimentos Mengniu, uma das maiores fabricantes de iogurtes e leite do mundo.
O hábito de consumir laticínios é menos disseminado na China (e no Oriente, de modo geral) do que nos países das Américas e Europa. Uma das estratégias da Mengniu é associar-se a ícones ocidentais admirados na China para promover seus produtos para o público doméstico.
Não à toa, desde 2016, a Mengniu tem em Messi seu garoto-propaganda. Recentemente, brasileiros como Neymar e Marquinhos, além do francês Mbappé, passaram a promover a marca, que é patrocinadora do clube destes atletas, o Paris Saint-Germain.