O pequeno mundo distante chamado Quaoar, em homenagem a um deus da criação na mitologia nativa norte-americana, está produzindo algumas surpresas para os astrônomos.
Pesquisadores disseram nesta quarta-feira (8) que detectaram um anel circundando o objeto, semelhante ao de Saturno. Mas aquele em torno de Quaoar desafia a compreensão atual de onde esses anéis podem se formar, localizados muito mais longe do centro do astro do que o conhecimento científico atual prevê.
A distância do anel de Quaoar o coloca em um local onde os cientistas acreditam que as partículas devem se juntar prontamente ao redor de um corpo celeste para formar uma lua, em vez de permanecer como componentes separados em um disco de material de anel.
“Trata-se da descoberta de um anel localizado em um local que não deveria ser possível”, disse o astrônomo brasileiro Bruno Morgado, do Observatório do Valongo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, principal autor do estudo publicado na revista Nature.
Descoberto em 2002, a órbita de Quaoar fica além de Plutão, nas margens do nosso Sistema Solar. É atualmente definido como um planeta menor e é proposto como um planeta anão, embora ainda não tenha recebido formalmente esse status pela União Astronômica Internacional, o corpo científico que estabelece essas atribuições.
Habitando uma região distante chamada cinturão de Kuiper, povoada por vários corpos gelados, Quaoar orbita cerca de 43 vezes mais longe do que a distância da Terra ao Sol.
O anel, um disco grumoso feito de partículas cobertas de gelo, está localizado a cerca de 4.100 km de distância do centro de Quaoar, com um diâmetro de cerca de 8.200 km
Ao contrário de qualquer outro anel conhecido em torno de um corpo celeste, o de Quaoar está localizado fora do chamado limite de Roche. Isso se refere à distância de qualquer corpo celeste que possua um campo gravitacional apreciável dentro do qual um objeto que se aproxima seria separado. É esperado que material em órbita fora do limite de Roche se reúna em uma lua.
“Um anel feito de detritos, resultante de um suposto impacto disruptivo em uma lua de Quaoar, sobreviveria por um tempo muito curto, mas a probabilidade de observar isso é extremamente baixa”, disse a astrômoma e co-autora do estudo, Isabella Pagano, diretora do Observatório Astrofísico de Catania, ligado ao instituto italiano INAF.
“Outra possibilidade é que as teorias para a agregação de partículas geladas precisam ser revisadas.”