Após surpreender o mundo ao receber uma indicação ao Oscar 2016 de melhor animação por O Menino e o Mundo, Alê Abreu finalmente volta aos cinemas com Perlimps, desenho previsto para estrear em 9 de fevereiro de 2023. O cineasta, porém, não está preocupado com uma possível nova nomeação ao principal prêmio da indústria. “Seria uma armadilha”, entregou.
A nova animação foi mostrada com exclusividade para o público da CCXP22 nesta sexta-feira (2) e, após a exibição, o diretor se juntou a elenco e equipe para falar sobre Perlimps. Humilde, Abreu afirmou que não pode trabalhar pensando em novas indicações ao Oscar. “Eu tento não pensar nisso. A maior armadilha é tentar fazer aquilo que você acha que o público ou o mercado quer ver. O caminho certo é sempre buscar algo dentro da gente”, discursou.
A cineasta Laís Bodanzky, que assume o papel de produtora de Perlimps, foi menos comedida sobre as possibilidades de o longa ser lembrado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas no futuro. “O Alê nunca vai falar em Oscar, mas eu vou (risos). Sim, nós vamos fazer campanha para 2024. Estamos muito otimistas que vamos levar o filme para representar o Brasil no prêmio. O Alê é muito respeitado e conhecido, e essa história precisa ser vista pelo maior número de gente possível no Brasil e no mundo”, concedeu a diretora de A Viagem de Pedro (2022).
Perlimps conta a história do lobo Claé (Lorenzo Tarantelli) e da ursa Bruô (Giulia Benite), agentes secretos dos reinos do Sol e da Lua, respectivamente, que precisam unir forças em uma missão contra gigantes que ameaçam a existência da floresta onde vivem com uma arma chamada de Grande Onda. Com o desenrolar da história, é possível perceber que os gigantes são humanos que estão construindo uma hidrelétrica, e que a arma nada mais é do que a represa que destrói a natureza ao redor da usina.
“A grande beleza do filme é a mensagem que ele traz. O respeito à natureza, e ao ser humano, de forma lúdica. O Alê saiu de São Paulo e foi morar nas montanhas de Santo Antônio do Pinhal, e toda a equipe de animação teve que se mudar para lá também. Todos isolados ali, perto de um bosque, com o Alê se inspirando na natureza para escrever a história e desenvolver o visual de Perlimps”, contou Laís.
“É uma mensagem importante não só para o Brasil, mas para o mundo. Estamos enfrentando o aquecimento do planeta, a destruição das florestas… E o filme não se passa na Amazônia, é uma floresta imaginária, que poderia ser em qualquer lugar do mundo, então é algo com que todo mundo pode se identificar”, alertou a produtora.
Com a experiência de quem já foi até indicado ao Oscar, Alê Abreu avalia que o mercado de animação brasileira é muito forte –embora seja menosprezado pelo próprio público nacional, que muitas vezes prefere histórias da Pixar ou da Disney. “Eu acho que fazer um projeto como Perlimps já foi um grande desafio. Conseguir equipe em um período de pandemia, ir redescobrindo os processos de trabalho.”
“Mas, como artista, o desafio é não repetir o que o mundo está fazendo. O Brasil tem muito a dizer sobre o nosso lugar, sobre o que estamos passando e o que já passamos, até politicamente. É aí que nós precisamos mostrar nosso trabalho”, incentivou. “Tem uma porta aberta aí, nós só precisamos segui-la.”