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Americanas: você pode confiar na avaliação de risco dos seus investimentos? – 18/01/2023

Americanas: você pode confiar na avaliação de risco dos seus investimentos? – 18/01/2023

Você tem algum dinheiro guardado, mas não tem tempo ou interesse em investir por conta própria. Você procura um fundo que lhe promete uma gestão conservadora: algo que ganhe da poupança, mas com pouco risco. Em troca, você remunera o gestor que cuida do seu dinheiro. Parece ok, certo?

A derrocada das Lojas Americanas mostrou que fundos dos país, muitos deles carimbados como investimento “conservador”, haviam se empapelado com ações da varejista (que derreteram mais de 80% desde a última quarta-feira, quando foi anunciado que havia um rombo de R$ 20 bilhões no balanço das companhias) ou títulos de dívidas da companhia – neste último caso, os de renda fixa, considerados os mais conservadores da praça.

Compilando dados da Economática, o especialista Rafael Zattar (Carteira Z/Dica de Hoje) encontrou 225 fundos comprados em ações das Americanas. No total, a posição destes fundos em Americanas era de R$ 405 milhões, no fim do ano passado, segundo o último dado público disponível.

Mas isso só acontece com quem investe em ações e que a renda fixa é mais seguro, certo?

Errado. Pela regulação vigente (Instrução 555 da CVM), os fundos de renda fixa não podem investir em ativos de renda variável, como ações, mas o caso das Americanas expôs o perigo dos títulos de dívida de grandes empresas. Um lembrete chato: debêntures são produtos de renda fixa.

As debêntures das Americanas perderam mais da metade do valor nos últimos dias, refletindo o temor de muitos credores de que o grupo não vai honrá-las, conforme os termos acordados em contrato. Quem gostaria de segurar um “papagaio” de um devedor que anunciou um buraco de R$ 20 bilhões na contabilidade?

O caso mais notório de exposição é o do Nu Reserva Imediata, o fundo mais popular do Brasil com mais de 1,3 milhão de cotistas. São clientes do Nubank que aportaram (a partir de R$ 1) para ter uma reserva de emergência.

De novo, na teoria tudo tranquilo: renda fixa, só ativo de baixo risco, com saque no mesmo dia para pedidos feitos até as 14h. Na prática: o fundo perdeu patrimônio porque parte de seus investimentos estavam em títulos da dívida das Americanas.

Segundo reportagem do “Valor Econômico”, com dados de setembro (os últimos disponíveis), o fundo tinha patrimônio de R$ 743 milhões, sendo que algo em torno de 1% (R$ 7,2 milhões) estava investido em duas debêntures das Americanas (LAMEA4 e LAMEA7), cujo valor vem em queda livre. No fim do ano, 22,9% dos recursos do fundo estavam em debêntures (renda fixa, lembra?).

O colunista procurou a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) para perguntar de quem é a responsabilidade disso.

A resposta: “Toda instituição deve realizar o suitability (processo de análise do perfil do investidor) com seus clientes para oferecer os produtos adequados, levando em consideração objetivos, prazos e tolerância ao risco. Todo produto oferecido, seja ele um fundo ou não, deve corresponder ao perfil e às necessidades do cliente. Também é importante que os investidores conheçam o próprio perfil e procurem entender os produtos disponibilizados para que a escolha seja a mais assertiva possível.”

Vou poupar o leitor de conselhos óbvios (1 – não há risco zero em nada nesta vida; 2 – é bom saber o que está comprando, especialmente antes de comprar). Mas é uma tolice culpar o investidor individual por não saber exatamente o que tinha dentro do fundo de renda fixa já que ele pagou a alguém que deveria entender disso (ou pelo menos saber que ativos são mais ou menos arriscados).

Neste caso, porém, o gestor também parece ter sido enganado pelo balanço das Americanas (aquele que não mostrava rombo nenhum).

O seu gestor não está sozinho no engano: os grandes bancos também estão micando com dívidas da companhia (e estão impedidos de executar, conforme o contrato, por força de decisão judicial).

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