Em dezembro de 2022, a Nasa deu um grande passo na missão de começar a levar humanos de volta para a Lua: a Artemis 1 foi lançada — 50 anos depois que o último ser humano esteve no nosso satélite.
As previsões mais otimistas acreditam que pisaremos novamente na Lua em 2025 — mas isso pode acontecer bem mais tarde.
O que está rolando
- Um dos maiores feitos da história da Nasa foi ter colocado 12 homens para caminhar na superfície da Lua, entre 1969 e 1972; nenhum outro país conseguiu isso até hoje.
- Em meio à corrida corrida espacial contra a Rússia, astronautas fincaram bandeiras, tiraram fotos, fizeram alguns experimentos e voltaram para casa.
- O programa Artemis é mais ambicioso: quer estabelecer uma presença constante em nosso satélite.
- Uma base e uma estação espacial lunar podem ser um trampolim para chegarmos mais longe — em especial, até Marte.
- O desafio agora é avançar em testes de tecnologias (e na criação de outras que nem existem) que permitam nossa presença permanente na Lua.
Próximos passos
O calendário do programa Artemis já passou por diversas mudanças e adiamentos; veja como está agora:
Artemis 2 (2024): A jornada da cápsula Orion deve ser repetida com quatro astronautas a bordo. Eles farão um sobrevoo de dez dias, dando uma volta até o lado oculto da Lua, a cerca de 400 mil quilômetros da Terra — o mais distante no espaço profundo que qualquer ser humano já foi. Mas não pousarão.
Artemis 3 (2025): O objetivo é “alunissar” (aterrissar na Lua) e desembarcar a tripulação no polo Sul, um local diferente e mais desafiador do que os visitados durante o programa Apollo. Nenhuma pessoa, nem sequer uma missão robótica, já pousou lá.
Espera-se encontrar depósitos de água congelada que possam ser usados para suprir a presença humana e produzir combustível. Mas a Orion não tem propulsão para descer e subir sozinha. Será preciso um sistema de pouso humano (HLS): uma nave para levar os astronautas entre a órbita da Lua, onde estará a cápsula, e a superfície. Por enquanto, a Nasa optou pela Starship, da SpaceX de Elon Musk, que ainda está em desenvolvimento.
Artemis 3.5 (2027): Documentos revelam que a Nasa pode adicionar uma missão intermediária, para que não haver uma grande lacuna no programa. Isso custaria mais uns US$ 5 bilhões (R$ 25 bi) e significaria atrasos para as fases e tecnologias seguintes.
Futuro (até 2034): Se bem-sucedido e com verbas, a etapa seguinte do programa Artemis é instalar o “Lunar Gateway”, que orbitaria nosso satélite e serviria de ponto de apoio para missões (uma Estação Espacial em miniatura).
Em parceria com outras agências e empresas privadas, como a SpaceX, a Nasa também pretende estabelecer um “acampamento” — uma base permanente em solo lunar —, com uma “plataforma habitável de mobilidade”, para viagens de até 45 dias.
A meta é que toda essa estrutura e experiência também permitam viagens tripuladas a Marte, inicialmente previstas para a década de 2030. “É um cronograma agressivo”, disse Jim Bridenstine, ex-administrador da Nasa. O mais provável é que ainda leve, pelo menos, 20 anos para isso acontecer.
Por que ninguém pisou de novo na Lua até agora?
- Chegar à Lua é bem caro. Segundo estimativa da Nasa, esse retorno deve custar cerca de US$ 160 bilhões, em um período de 13 anos — um pouco mais do que custou Apollo, em valores atualizados.
- Missões tripuladas precisam de muitos testes, para garantir a segurança das tripulações.
- É um desafio conseguir apoio governamental.
A verba da Nasa em 2022 foi de US$ 24 bilhões, e a administração Joe Biden quer elevar este valor para US$ 26 bilhões neste ano.
Parece muito, mas não é: representa apenas cerca de 0,4% do orçamento federal dos Estados Unidos. Para comparação, o exército norte-americano deve receber US$ 858 bilhões em 2023.
Parece menos ainda se considerarmos os grandes projetos espaciais simultâneos: o Telescópio Espacial James Webb, o foguete SLS (Sistema de Lançamento Espacial), as missões de defesa planetária contra asteroides (como a Dart).
Sendo assim, o cumprimento do cronograma do programa Artemis nos próximos anos depende de mais dinheiro e boa vontade política — mas não sabemos quem será o presidente e quais suas prioridades em 2025 (ou mais tarde).
Desafios específicos da Lua
A Lua é nosso melhor laboratório se quisermos chegar a outros mundos hostis, como Marte.
Contudo, o ambiente é pouquíssimo amigável para seres humanos e seus equipamentos. Pedregulhos, por exemplo, são riscos para a segurança dos pousos.
Uma grande preocupação é o regolito — a chamada poeira lunar. Bilhões de anos de impactos de meteoroides deixaram a Lua coberta por uma grossa camada de pó muito fino e “afiado”, como um talco.
Por sua interação com o vento solar, ele é eletrostaticamente carregado, se tornando muito abrasivo e grudento. E pode danificar trajes espaciais, veículos e sistemas muito rapidamente. A longo prazo, também pode ser prejudicial ao nosso sistema respiratório.
Outra questão é a luz do Sol. Diferentemente da Terra, a Lua tem um ângulo de inclinação mínimo e não tem atmosfera protetora. Ou seja, durante metade do mês, ela é exposta diretamente aos fervilhantes raios solares; na outra, fica na mais fria escuridão.
A Nasa está desenvolvendo um sistema de energia por fissão (reator nuclear), que poderia suprir a base dos astronautas com eletricidade durante as semanas de noite lunar, e trajes e veículos resistentes ao Sol e à poeira.
Nós já estivemos lá, por que retornar agora?
A Lua voltou a ser alvo na nova era da exploração espacial. Isso porque ela tem muita água guardada na forma de gelo, dentro de suas crateras e nos polos.
É por causa desse “tesouro” que os objetivos de Artemis vão além:
- Novas missões vão focar no polo Sul lunar, onde há 13 possíveis pontos de pouso. Esse local, onde o Sol quase não bate, estima-se haver 600 bilhões de quilos de gelo.
- Água é a chave para o objetivo de ter uma presença permanente em nosso satélite.
- Reservas aquáticas permitiriam também a fabricação de combustível (hidrogênio e oxigênio) para naves espaciais. Assim, poderia viabilizar missões de mais longa duração ou para mais longe, sem depender da Terra.
Bill Nelson, atual administrador da Nasa, disse: “Desta vez, voltamos à Lua para aprender, viver, trabalhar, inventar, criar… para depois ir ao cosmos para explorar mais”.
Bilionários aceleram esse objetivo
Um boom de empresas privadas de exploração espacial, lideradas por bilionários como Elon Musk (SpaceX) e Jeff Bezos (Blue Origin), tem levado inovação e empolgação ao setor nos últimos anos.
As agências de outros países, como China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Israel e Europa (ESA), também entraram nessa nova corrida, onde há muita cooperação — Apollo nos ensinou que a exploração espacial como competição entre países não é sustentável.
Isso gera motivação para fazer diferente, reduzir custos e chegar mais longe. Precisaremos disso tudo para viver na Lua, ir a Marte e além.
Tudo isso não é mais uma questão de “se” — mas, sim, de “quando” vai acontecer.