Geraldo Alckmin elegeu-se vice-presidente da República e Fernando Haddad, derrotado nas três últimas eleições que disputou, é uma estrela do firmamento petista. No grande elenco da equipe de transição circula a proposta da instituição de um regime de tarifa zero nos transportes públicos.
Nas palavras do deputado Jilmar Tatto (PT-SP), ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo:
“O presidente Lula pode dar apoio a essa ideia. Joguei o tema para ser debatido no grupo de trabalho das cidades. Meu papel é ajudar a convencê-lo da necessidade do direito de ir e vir. Assim como a população tem acesso à saúde gratuita e universal, acesso à educação, precisa ter acesso ao transporte.”
Noves fora a mistura da saúde com transporte, a ideia é interessante. Mais de 40 cidades (a maioria pequenas) já a adotaram, com sucesso. Nas últimas décadas o modelo de negócio dos transportes urbanos sofreu poucas alterações e, do nada, surge a surpreendente informação de que a tarifa zero tem o apoio de destacados empresários desse setor cravejado por malfeitorias. Vá lá. Com a viúva bancando os custos dos transportes urbanos, só Deus sabe o que acontecerá com a gestão dessas arcas.
Por ser um problema de gestão municipal, Tatto, Haddad e Alckmin deveriam ficar a quilômetros desse debate.
Tatto, nada. Haddad foi severo na defesa do aumento, já que sua acrobacia tributária viu-se rejeitada pelo governo de Dilma Rousseff. Alckmin entregou a gestão das manifestações à Polícia Militar.
Com esse modelo de gestão, apesar dos protestos nas ruas, Alckmin e Haddad foram para Paris com uma agenda de trabalho para trazer à cidade um evento internacional. Numa das noites parisienses, a dupla subiu num palco e cantou “Trem das Onze”, de Adoniran Barbosa. Dias depois a PM investiu, sem motivo nem propósito, contra uma passeata ordeira. Na esquina da rua Maria Antônia com a da Consolação, a tropa de choque desceu com bombas de gás e estrépito.
A violência potencializou os protestos. Tirou da garrafa o gênio das passeatas que, três anos depois, dariam base popular à deposição de Dilma Rousseff.
Alckmin e Haddad geriram o problema dos protestos contra o aumento das tarifas com arrogante insolência e deu no que deu. Passaram-se nove anos e a ideia da tarifa zero surge num governo em que Alckmin e Haddad são estrelas. Em 2013 a garotada da tarifa zero era demonizada por vândala e lunática. Vale repetir que, na esquina da Maria Antônia com a rua da Consolação, vândala foi a PM. Coisa de quem acredita que caneta e cassetete resolvem qualquer questão.
Uma tarifa zero decidida com canetadas de Brasília é coisa de megalomaníaco lunático. O sistema de transportes de uma pequena cidade nada tem a ver com o de uma metrópole. Além disso, a rede de São Paulo não pode ser comparada com a pantanosa tragédia que existe no Rio. Para os megalôs lunáticos, cria-se o transporte gratuito num momento de estranha conveniência dos empresários. Tudo bem.
O que se fará quando os contratos não forem honrados (como no Rio), ocorrendo a deterioração dos serviços e incêndios de ônibus?
Canta-se “Trem das Onze” em Paris e deixa-se o choque da PM cuidar do caso.
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