Em 2009, durante o Salão de Pequim, um representante da Great Wall Motors –que hoje atende pelas iniciais GWM –se mostrou animado com a visita de jornalistas brasileiros ao estande da marca. “Temos grandes planos para o Brasil”, disse ele, em inglês.
Passados 13 anos, os planos se tornam realidade. E parecem ainda maiores.
Após adquirir a fábrica que pertenceu à Mercedes-Benz, em Iracemápolis (interior de São Paulo), a montadora chinesa confirma que o primeiro modelo produzido será uma picape média com motor híbrido flex, que deve estrear em 2024.
Contudo as vendas começam antes, com veículos importados da China. O primeiro será o Haval H6, que estreia no primeiro semestre de 2023.
O novo utilitário esportivo foi apresentado no Rio de Janeiro, com direito a um teste curto pelo Aterro do Flamengo, zona Sul da cidade. Trata-se de um modelo híbrido plug-in, cujas baterias podem ser carregadas na tomada.
A avaliação foi feita no modo 100% elétrico. O Haval já havia rodado um pouco nessa condição, mas ainda havia 138 km de autonomia.
Segundo a GWM, é possível rodar até 170 km sem queimar gasolina. Na prática, é como ter um carro elétrico que, em caso de falta de energia, traz um motor a combustão –no caso, um 1.5 turbo– para evitar apuros.
No total, a combinação de combustível e eletricidade rende 393 cv, potência muito superior aos carros apontados como rivais do H6. O modelo de origem chinesa vai concorrer com Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e Volkswagen Taos.
A equipe que organizou o teste insistiu para que o controle de velocidade adaptativo fosse acionado. O sistema, que faz parte da lista de itens de série, acelera e freia o carro sozinho em meio ao trânsito.
Quando está ativado, o equipamento reconhece a silhueta de motos, carros e caminhões, que vão aparecendo como avatares no painel digital. A BMW dispõe de tecnologia semelhante, que é até superior em resolução. Mas um SUV híbrido da marca alemã vai custar pelo menos o dobro que o Haval H6.
Embora não tenha revelado valores, os concorrentes apontados pela GWM dão pistas sobre quanto o SUV chinês irá custar.
Um Toyota Corolla Cross Hybrid flex, por exemplo, é oferecido por R$ 208,4 mil na versão mais equipada. Já o Jeep Compass híbrido plug-in sai por R$ 347,3 mil. O modelo da GWM deve se posicionar entre um e outro.
A avaliação do H6 não foi suficiente para tirar conclusões sobre desempenho, mas deu para perceber que as retomadas no modo elétrico têm o vigor de modelos com apelo esportivo.
Outros pontos positivos são o espaço interno e a boa impressão deixada pelos materiais usados nos revestimentos, apesar do cheiro de plástico sentido na cabine.
O desenho é um tanto genérico, característica da maioria dos utilitários esportivos disponíveis hoje no mercado. Já o porte é avantajado, com 4,65 metros de comprimento (25 centímetros a mais que o Jeep Compass).
Quando o Haval H6 estrear, a GWM terá 50 lojas no Brasil. A empresa fez um longo processo de seleção dos revendedores e espera cativar clientes com um pós-venda bem cuidado. Até o fim de 2024, a empresa pretende instalar 133 pontos de venda e manutenção.
Dinheiro para isso não falta: a montadora está no meio de um ciclo de R$ 10 bilhões em investimentos no país
Assim como já ocorre com BYD e Caoa Chery, a aposta em modelos híbridos feita pela GWM mostra o quanto os chineses têm potencial de crescer no mercado nacional.
Enquanto empresas já consolidadas por aqui ainda desenvolvem veículos capazes de rodar com gasolina, etanol e eletricidade, as novas marcas chegam com produtos prontos e rentáveis, aptos a receber incentivos tributários sendo importados ou montados no Brasil.
Soma-se a isso a percepção de qualidade dos produtos atuais, que é o maior sinal de evolução dos carros chineses. Nesse ritmo acelerado de evolução e competitividade, em breve serão mais comuns nas ruas.
A virada deve acontecer quando a GWM e a BYD estiverem com suas linhas de produção em plena atividade, respectivamente em São Paulo e na Bahia.
Se conquistarem a mesma participação atual da Caoa Chery, os chineses somados terão aproximadamente 7% do mercado nacional até o fim desta década.
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