A filha afetiva de Flordelis, Marzy Teixeira, um dos réus pelo homicídio do pastor Anderson do Carmo, marido de Flordelis, falou durante julgamento na tarde de hoje que chegou a orquestrar um plano para matar o pastor – o que posteriormente não se concretizou.
Segundo a ré, os detalhes haviam sido combinados com o irmão Lucas – já condenado e preso a sete anos e seis meses por participação na morte do pastor. “Às duas horas, ele me liga e fala que estava no portão. Eu desci e fiquei das 2h às 4h conversando com ele para não fazer isso lá. Ele sugeriu: você sobe, tira a mãe do quarto que eu subo e mato ele dormindo. Falei que não ia fazer.” Ela não informou quando essa conversa aconteceu.
A ideia de Marzy era que o pastor fosse morto em Maria Paula, bairro da região de Niterói, e não em casa. O objetivo do seu plano era simular um latrocínio.
Por causa da falta de consenso entre ela e Lucas, a filha afetiva disse ainda que foi ameaçada por Lucas: “pede para o seu Deus te proteger, se eu te pegar na rua, vou te estourar todinha”, ele teria dito.
Segundo Marzy, a motivação do plano tinha relação com os abusos sexuais cometidos por Anderson na casa da família. Marzy citou um episódio vivido por uma integrante da família, Anabel, que teve as pernas acariciadas por Anderson em um carro.
“O melhor é denunciar [caso de abuso], mas já estava num momento de explosão e decidi matar”, disse ela. Ela lembrou também de um episódio quando foi encurralada pelo pastor em uma cozinha.
“Ele me encurralou e disse: ‘sabia que você tem um corpão?’ Eu pensei: como assim? Falei com licença e ele disse: ‘você é muito gostosa’. Empurrei ele e passei e por debaixo do braço dele”.
Negou ter orquestrado a morte do pastor. Ao ser questionada pelo júri sobre o que merece um homem abusador, Marzy respondeu: “a morte.”
Questionada se Flordelis ordenou a morte de Anderson, Marzy negou. Durante todo depoimento, Marzy se refere à Flordelis como mãe e ao pastor pelo nome dele. Ela negou ainda que o referido plano tenha culminado na morte do pastor.
“Não gostava muito dele, sofri muito, mas fiquei em choque [com a morte] porque era uma coisa que não queria mais [a morte do pastor]. Hoje, me sinto culpada porque comecei o plano, não concluí, mas alguém concluiu. Em relação a ele, sou grata por ter me levado para morar, a gente estava se aproximando, mas infelizmente ele se foi.”
Durante o depoimento, a ré também contou que flagrou uma vez Anderson acariciando Simone enquanto ela dormia.
Anderson do Carmo foi apontado como o administrador da casa. Marzy disse que era obrigada a entregar metade do salário, no período que trabalhava. De acordo com o depoimento, o dinheiro era entregue a Mizael e repassado a Anderson.
“A metade do meu salário, eu tinha que dar na mão do Mizael para ele dar pra ele. Não reclamava porque eram muitas crianças, e eu usufruía de muita coisa, então eu concordava que tinha que contribuir.”.
Segundo a filha afetiva, Anderson determinava a comida de Flordelis e dizia as roupas que a parlamentar deveria usar para cada evento.
Flordelis também deu depoimento hoje. Em seu depoimento, Flordelis afirmou hoje que ocorriam “abusos” dentro da casa da família, no Rio de Janeiro, e que “hoje sabe o motivo” do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo.
“Eu não posso acusar ninguém eu não estava presente no local, eu não vi. Eu não posso afirmar. Meu filho Flávio foi sentenciado, meu filho Lucas foi sentenciado. Hoje eu sei o motivo do crime. É muito difícil para mim falar, mas foram os abusos que aconteceram dentro da minha casa”, comentou a ré.