A tentativa de grupos bolsonaristas de tomar o poder de forma violenta no último domingo pode afetar os seus investimentos?
O que tende a ocorrer com a Bolsa e com aplicações como Tesouro Direto, poupança e títulos de renda fixa? Seria o caso de tirar o dinheiro do país?
Na coluna de hoje eu explico os possíveis impactos que a instabilidade institucional pode ter no mundo dos investimentos, e o que nós, investidores pessoas físicas, podemos fazer.
Instabilidade das instituições pode afetar os investimentos?
Sim, se ela for grave o bastante para gerar insegurança nos investidores internacionais. A instabilidade das instituições públicas de um país o torna menos previsível e, portanto, mais arriscado. O aumento do risco, por sua vez, pode provocar fuga de capital.
Não à toa, entidades que representam a indústria (como a Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e o setor financeiro (Febraban, Federação Brasileira de Bancos) condenaram os ataques em Brasília.
A questão é: a situação está caminhando para ficar definitivamente sob controle? Ou a crise tende a ser duradoura, podendo haver ataques cada vez mais violentos às instituições democráticas?
Se a percepção do mercado for de que a crise está sendo resolvida e não existe ameaça real às instituições, a tendência é de que os nossos investimentos não sejam afetados, ou que o sejam de forma branda.
Mas, se os investidores internacionais acharem que o risco de pôr dinheiro no Brasil aumentou significativamente, pode ocorrer uma queda generalizada no preço das ações, inicialmente, ou mesmo uma redução dos investimentos estrangeiros no setor produtivo do país, o que afetaria a produção e o emprego no mercado nacional.
Quais investimentos podem ser afetados?
No caso de o mercado interpretar os fatos como um aumento significativo do risco de investir no Brasil, a tendência é ocorrer uma queda no mercado de ações e de fundos imobiliários.
Ao mesmo tempo, a tendência seria alta do dólar e, dependendo da intensidade da crise, aumento de juros.
Hoje, 9, a Bolsa abriu o pregão em queda. Já o dólar está subindo de forma moderada.
Uma elevação da taxa básica de juros, a Selic, provocaria imediatamente um aumento do retorno do Tesouro Selic, um título do Tesouro Direto. Da mesma forma, os CDBs, LCAs e LCIs pós-fixados (aqueles que têm a rentabilidade definida como uma porcentagem do CDI) também tenderiam a gerar mais retorno.
Já com o Tesouro IPCA e o Tesouro Prefixado, a situação é um pouco mais complexa. Para quem já tem dinheiro aplicado nessas modalidades, uma alta dos juros provocaria uma queda no preço desses títulos. Assim, os investidores poderiam ter prejuízo caso tentassem resgatar o valor antes da data de vencimento do papel.
Porém, para quem vai investir no Tesouro Prefixado e no Tesouro IPCA, uma elevação na taxa básica de juros, aumentaria o retorno desses títulos.
O mesmo que ocorre com o Tesouro IPCA e com o Tesouro Prefixado vale para CDBs, LCAs e LCIs indexados à inflação e prefixados.
Na poupança, o impacto tenderia a ser pequeno. Nos fundos imobiliários, um aumento dos juros tenderia a provocar queda no preço das cotas.
Reforço apenas que tudo isso ocorrerá somente se houver a percepção, por parte de grandes investidores (principalmente estrangeiros), de que o risco de investir no Brasil aumentou significativamente.
Havendo a percepção de que a situação caminha para a normalidade, o impacto nesses investimentos será pequeno ou nulo.
É hora de investir no exterior?
Investir no exterior é importante independentemente de crises como essas. Até alguns anos atrás, somente grandes investidores tinham meios de tirar seu capital de um país e alocar em outro rapidamente.
Hoje, no entanto, tais operações estão ao alcance de pessoas físicas com investimentos na casa de R$ 10 mil ou até menos. Isso nos deixa protegidos de crises que afetem especificamente o mercado nacional.
No entanto, eu não acredito que migrar repentinamente os investimentos para o exterior seja uma saída adequada. O mercado financeiro americano tem muito mais opções de aplicação do que o brasileiro. Escolher mal pode significar um prejuízo até maior do que deixar o dinheiro no Brasil.
Também não acho necessário (ou mesmo vantajoso) transferir 100% do patrimônio para outro país, se a pessoa mora no Brasil. Se fizer isso, você ficará muito exposto à variação do câmbio. Em caso de queda significativa do dólar, como ocorreu entre 2003 e 2008, seu patrimônio pode perder cerca de 30% do valor ou mais.
O que fazer?
Como ainda não sabemos se a atual crise terá um impacto relevante na percepção dos investidores sobre o Brasil, minha posição está sendo de não mexer nas minhas aplicações nos próximos dias.
Porém, estou planejando aumentar gradualmente minha exposição a ativos americanos até o final de 2023, reduzindo, assim, minha dependência do mercado nacional. Espero elevar a proporção do meu patrimônio aplicada no exterior para algo entre 10% e 20%.
Veja que estou apenas descrevendo minhas decisões. Não se trata de uma recomendação, e sim do compartilhamento de informações sobre a minha estratégia, para que cada leitor avalie se faz sentido ou não para si próprio.
Alguma dúvida?
Tendo alguma dúvida sobre investimentos, me siga no Instagram e mande uma mensagem por lá. Sua dúvida poderá ser respondida nesta coluna em breve.