Ele abriu o placar ao bater pênalti e com toque mágico começou a jogada do segundo gol. Nem o general De Gaulle pararia Lionel Messi em Lusail. O futebol mundial tem novo rei incontestável. E felizes aqueles que puderam vê-lo para humanizar a Copa do Qatar. Para vê-lo fazer o 3 a 2 e bater o pênalti como bateu depois da prorrogação.
Messi disputou cinco Copas do Mundo, duas finais e, finalmente, ergueu a taça que ninguém, neste século 21 fez tanto por merecer.
Ele fazia parte daquela confraria de gênios que jamais foram campeões mundiais. Dela fazem parte seu compatriota Alfredo Di Stéfano, o holandês Johan Cruyff, e brasileiros como Zizinho, Paulo Roberto Falcão e Zico.
“Ah, Zico não ganhou a Copa do Mundo? Azar da Copa do Mundo”, costuma dizer o jornalista Fernando Calazans.
Se a Copa falasse ela é que se queixaria por nunca ter sido tocada pela mãos de gênios cujos pés, mais que a Copa do Mundo, homenagearam a bola.
Pois não tem mais por que se queixar da falta dos dedos de Messi.
Venceu a Argentina que chegou ao Qatar invicta em 36 jogos, prestes a igualar o recorde italiano de 37 partidas.
De que valem os números? A Itália nem à Copa veio.
Precisou perder a invencibilidade para a modesta Arábia Saudita logo na estreia para fazer seis jogos de mata-mata.
Messi tornou-se também o jogador com a maior quantidade de jogos em Copas, ao fazer 26 jogos e deixar o alemão Lothar Matthaus para trás, além de também superar Diego Maradona em participações: cinco a quatro.
O Dom Diego que ganhou em 1986, no México, com a mão direita de Deus e o pé esquerdo do Diabo, também para sorte da Copa do Mundo.
Messi havia chegado perto no Brasil, em 2014 e, na prorrogação, a Alemanha, a seleção derrotada na final de 28 anos antes, levou a melhor.
De Messi o que se dizia era sobre ele não ter a carga dramática dos heróis mais cultuados pelos hermanos.
Nada de Carlos Gardel, morto em acidente aéreo, ou de Evita Perón, cujo cadáver foi sequestrado.
Tampouco sua vida pacata se compara à de Maradona, ao contrário, é o avesso dela.
E olhe que 12 dias antes de a Copa começar, Messi perdeu por lesão o companheiro que há tanto tempo buscava na seleção e, enfim, havia encontrado, o meia Giovani Lo Celso.
Diante do impacto da derrota na estreia, decretou-se ali a angustiante solidão de Messi, abandonado ao próprio azar. Qual o quê!
Havia vida e o jovem treinador Lionel Scaloni, 44, soube encontrá-la nas mudanças feitas na equipe não mais imexível, porque invicta.
E La Pulga resolveu fazer no Qatar o que sempre fez pelos gramados do mundo, mais especialmente os europeus, mas também pelos da América do Sul.
Ele faz da bola aquilo que os melhores joalheiros são capazes de fazer com os diamantes.
Goleador, driblador, passador, dissimulado, mágico, talvez só lhe tenha faltado a negritude do Rei Pelé para frequentar o mesmíssimo patamar.
Porque fez de Camp Nou o pedaço mais perto do céu de toda Catalunha, da Espanha, da Europa e do mundo.
Com o novo ingrediente da agressividade, como bem mostrado pelo repórter Alex Sabino, ao fazer do limão, que foi o assalto da semifinal da Copa América de 2019, a limonada para vencer em 2021 e, agora, a Copa do Mundo.
E ainda teve de enfrentar a resistência francesa quando o príncipe Mpabbé, em dois minutos, empatou e forçou a prorrogação. E novamente, depois que colocou a Argentina à frente na prorrogação e viu o companheiro de PSG e rival buscar mais uma vez o empate.
Que sorte teve a Copa do Mundo.
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