“Em agosto deste ano, os Estados Unidos lançaram um plano estratégico para a África”, explica Paul-Simon Handy, que dirige o Instituto de Estudos e Segurança, em Addis Abeba. “É um documento inovador, no sentido de que, pela primeira vez, vemos os Estados Unidos se projetando, definindo interesses estratégicos na África, desenvolvendo uma visão que vai além dos interesses de estabilidade a curto prazo, que acabaram por se transformar na doutrina norte-americana, como de vários países ocidentais, europeus em particular, na África. Estabilidade de curto prazo que levou à criação de regimes autocráticos na região, cujas consequências conhecemos hoje. Eles agora estão tentando definir sua própria visão estratégica, permanecendo um aliado estratégico da França”.
Joe Biden também fará um discurso para círculos econômicos e líderes empresariais. Por sua vez, Jon Temin, vice-presidente de programas políticos do Centro Truman de Política Nacional (Truman Center for National Policy), espera que Biden “realmente enfatize a democracia, os direitos humanos e a boa governança tanto quanto as questões econômicas e os interesses do setor privado; acredito que há um grande interesse em ter mais empresas americanas investindo na África, o que é mutuamente benéfico e os Estados Unidos estão atrasados em algumas dessas áreas”.
Washington anuncia US$ 55 bilhões em três anos para a África
Pouco antes, o conselheiro de segurança nacional norte-americano, Jake Sullivan, anunciou que os Estados Unidos “dedicarão US$ 55 bilhões à África em três anos”. Os fundos seriam destinados à saúde e à resposta às mudanças climáticas, mas sem detalhar de onde virão ou para onde serão alocados.
Sullivan assegurou que este financiamento, e mais genericamente o compromisso americano, não estaria ligado à atitude dos países africanos face à guerra na Ucrânia, num momento em que muitos deles se recusam a condenar abertamente a Rússia.
Uma fonte na União Africana saúda a disponibilidade de Washington sobre esses temas, mas especifica que a estratégia do continente consiste em diversificar os seus parceiros internacionais, sejam eles Estados Unidos, China ou União Europeia.
Burkina Faso, Guiné, Mali e Sudão ausentes
Vários países do continente não estarão representados neste encontro. Burkina Faso, Guiné, Mali e Sudão não foram convidados para a cúpula de Washington. Esses quatro países, que passaram por golpes, estão sob sanções da União Africana e os Estados Unidos dizem que adotaram a mesma linha. O Chade, por outro lado, foi convidado por não estar sob sanções da organização continental.
Dois outros membros da UA não foram convidados: a Eritreia – com quem Washington diz não ter relações diplomáticas plenas – e a República Árabe Saarauí Democrática (estado parcialmente reconhecido internacionalmente e que reivindica soberania sobre todo o território do Saara Ocidental).