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vitória popular, crise e golpe de Estado

vitória popular, crise e golpe de Estado

Castillo, porém, optou pela cooptação. Bellido durou pouco mais de dois meses; logo após, assumiu Mirtha Vásquez, de centro-esquerda. Mais tarde, o presidente concretizou seu giro político e entregou o gabinete ao comando de Héctor Valer, um congressista de extrema direita.

O cavalo de pau perpetrado por Castilho significou, de um lado, seu afastamento e perda de bases populares e, de outro, a procura eterna por grupos de direita que sustentassem o governo contra o próximo golpe em curso, seja sua origem no Parlamento, no Ministério Público ou na imprensa.

Ao enfrentar a quarta moção de vacância, Castilho tomou a pior decisão possível. Fechou o Congresso – poderia, por exemplo, ter convocado novas eleições –, decretou reestruturação do sistema de Justiça e impôs toque de recolher. Em nada diferiu do golpe de Estado de Alberto Fujimori em 1992, exceto que, à época, o ditador contava com o apoio do patronato para implementar o programa neoliberal, mesmo que para isso fosse necessário uma ditadura. 

A oposição de direita, então, pôde finalmente interpor o seu golpe de Estado. Com 101 votos dos 130 legisladores, Castillo foi destituído e, logo após, preso, apesar dos protestos do México de que o direito ao asilo do presidente teria sido violado.

A sua vice, Dina Boluarte, que há tempos já havia dito não coincidir com os ideais do Peru Livre, partido ao qual estava filiada ao ser eleita em 2021, e, com tal declaração, se mostrou como uma boa alternativa em caso de sucesso do golpe de Estado, já antecipou que não convocará eleições e seguirá em governo de “conciliação nacional”. 

O Peru Livre, que foi contrário à tentativa de Castillo ao querer fechar o Congresso e, também, ao golpe de Estado do Parlamento, já proclamou que lutará pela liberdade do agora ex-presidente e por uma Assembleia Constituinte como única alternativa para solucionar a crise política peruana, que se arrasta há décadas. 

Para nós, fica a lição de que as vitórias das esquerdas neste segundo ciclo de governos populares na região não é a repetição do primeiro, iniciado com a vitória de Hugo Chávez, em 1998, na Venezuela. Agora, há uma crise do capital, com a consequente necessidade das burguesias de aumentar a exploração sobre as classes trabalhadoras e, ademais, uma extrema direita organizada e militante. 

Nossos governos devem, de um lado, lutar de acordo com a correlação de forças na qual estão inseridos; porém, de outro, fazê-lo de modo a alterar a correlação de forças, ao invés de capitular perante ela.

(*) Daniel Valença é professor da graduação e mestrado em direito da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), coordenador do Grupo de Extensão e Pesquisa em Direito, Marxismo e América Latina (Gedic) e vice-presidente do PT/RN.

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