Com a chegada de Lula, o Brasil deve voltar a exercer uma liderança que costure entendimentos e que seja a voz representativa da região. Para Fraga, haverá uma mudança substancial no terreno do diálogo e uma maior valorização do Mercosul, sem que isso necessariamente signifique um bloco mais operacional.
A Argentina quer impulsionar a incorporação formal da Bolívia ao Mercosul e a volta da Venezuela, suspendida por “ruptura democrática” desde 2017. Mas para o analista, essas duas incorporações não devem acontecer, já que os dois países não estão dispostos a realizar as reformas exigidas para integrar o Mercosul. Além disso, o Uruguai deve resistir, assim como os Congressos do Brasil e da Argentina, onde a centro-direita tem boa representatividade.
Fraga vê Lula reorganizando a União das Nações Sul-americanas (Unasul), e voltando à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Durante o governo Bolsonaro, o Brasil abandonou esses dois foros regionais.
Rebeldia uruguaia
Os assuntos que serão debatidos nesta terça-feira pelos presidentes foram analisados pelos ministros das Relações Exteriores de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai nas últimas horas, durante a reunião preparatória.
O principal debate foi quanto à agenda de negociações externas do Mercosul por acordos de livre comércio com outros blocos e países. O ponto de discórdia é o Uruguai.
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, está decidido a avançar de forma unilateral com negociações com outros países, mas por fora do Mercosul. Essa decisão viola as normas de uma União Alfandegária, que exige regras comuns.
O Uruguai alega que o Mercosul não avança e que se tornou uma camisa-de-força, restringindo as oportunidades para a economia uruguaia que precisa se abrir ao mundo.
Na semana passada, o Uruguai apresentou formalmente à Nova Zelândia uma solicitação de adesão ao Tratado Integral e Progressista da Associação Transpacífico (CPTPP), um bloco comercial entre 11 países banhados pelo Oceano Pacífico.
Esse movimento provocou uma queixa formal de Brasil, Argentina e Paraguai, incluindo uma advertência sobre a possível adoção de medidas contra o Uruguai se um tratado for assinado.
No ano passado, o Uruguai já tinha aberto negociações com a China por um Tratado de Livre Comércio, causando atritos com Brasil, Argentina e Paraguai.
O chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, acusou o Mercosul de ser um bloco “imóvel”, “sem acordos com nenhuma das 10 principais potências do mundo” enquanto o chanceler argentino, Santiago Cafiero, advertiu que as “atitudes unilaterais” do Uruguai “preocupam” e podem levar a uma “ruptura”.