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Mulheres divergem sobre regras de vestimentas no Qatar – 05/12/2022 – Esporte

Mulheres divergem sobre regras de vestimentas no Qatar – 05/12/2022 – Esporte

Mulheres que visitam o Qatar para a Copa do Mundo 2022 divergem sobre seguir ou não as orientações a respeito do que vestir nas ruas do país. Algumas acreditam que é importante respeitar a cultura local, enquanto outras veem as recomendações como uma forma de opressão.

Há a indicação para que os visitantes evitem ombros à mostra e roupas acima dos joelhos. O site oficial do regime qatariano para o Mundial dá as recomendações sem distinguir gênero, mas afirma que “geralmente” as pessoas podem usar “a roupa que preferirem”.

Relatos indicam, porém, que a orientação é principalmente direcionada às mulheres, uma vez que o país possui um sistema de tutela masculina em que homens da família são responsáveis pelas principais decisões da vida delas.

A palestina Hala Kead, 18, acredita que a melhor saída é seguir a cultura local. Ela usava um vestido florido de alças com comprimento levemente acima dos joelhos, mas um echarpe cobria seus ombros, costas e parte dos braços.

Ela veio para o Qatar com a família torcer pela seleção local. O país é um dos que apoiam a soberania do território palestino, um dos motivos que motivou a viagem dos pais e das duas filhas. Esse também é um motor para que ela busque respeitar a orientação local.

“Países do Golfo têm regras mais restritas sobre vestimentas, por isso é importante respeitar sua cultura. Mas no geral as pessoas [do Qatar] são bem tranquilas, mesmo se você não estiver usando o que eles costumam usar”, diz Kead, que também é muçulmana. “Eu estou dando meu melhor para me vestir de forma adequada.”

Nas ruas de Doha, capital do país, turistas se sentem à vontade para vestir o que querem durante o Mundial. Mini shorts, saias acima do joelho, vestidos de alça e regatas se tornaram roupas comuns, um contraste às longas túnicas, acompanhadas dos hijabs e niqabs usados pelas mulheres islâmicas.

Anoushka Sharma, 23, não sabia que havia recomendações sobre como se vestir quando pegou um voo da Índia em direção ao Qatar. Andava pelas ruas de Doha de calça e cropped, uma blusa que cobre apenas a região dos seios e deixa a barriga à mostra.

Diz, porém, que mesmo se estivesse ciente das orientações não teria mudado a composição da sua mala.

“Eu não concordo com isso. Nós deveríamos nos vestir com aquilo que queremos”, pontua, dizendo que não passou por nenhuma situação de assédio no país.

Já a brasileira Raquel Fernandes, 32, acha importante respeitar a cultura local e, por isso, priorizou roupas que seguissem as tendências indicadas. Ao mesmo tempo, trouxe na mala algumas opções de regatas, croppeds e shorts mais curtos, caso sinta que o ambiente esteja mais permissivo do que imaginava.

Outro motivo que a levou a favorecer calças e camisetas foi sua própria segurança, uma vez que não sabia como homens locais reagiriam a roupas diferentes das que estão acostumados a ver em mulheres.

“No Brasil a gente já sofre um pouco isso de não poder usar o que quer preocupada com o que os homens vão pensar ou da forma que eles vão agir. Aqui, como é algo mais rígido, a preocupação foi a mesma”, diz.

Desde que o país foi anunciado como sede da Copa do Mundo, em 2010, enfrenta resistência de ativistas de direitos humanos, entre eles feministas, pela falta de direitos que mulheres enfrentam no país.

No sistema de guarda masculina, homens são responsáveis por decisões que envolvem viagens, trabalho, educação, casamento e a saúde da mulher, de acordo com a organização Human Rights Watch.

O pai é o primeiro responsável e, em sua ausência, outros familiares como irmãos, tios ou avôs assumem a tutela. Após o casamento, é feita a transferência para o marido e, em caso de divórcio, a guarda volta para parentes próximos.

A lei exige que as mulheres peçam a separação à Justiça, enquanto homens podem se divorciar de forma unilateral. O sistema concede aos pais a guarda legal dos filhos mesmo se o tribunal tiver ordenado que fiquem com a mãe.

O conjunto de regras, porém, desrespeita a Constituição do Qatar, que determina que todos são iguais perante a lei, e que não deve existir discriminação independentemente da raça, sexo, idioma ou religião.

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