O 5G, quinta geração da telefonia móvel que fornece internet mais rápida e estável, começou a ser implementado em julho em Brasília e, aos poucos, tem chegado às capitais. Ainda que a tecnologia não esteja em todos os locais, pesquisadores já estão de olho no 6G, a próxima evolução tecnológica.
Nesta semana, foi inaugurado o Centro de Pesquisa em Engenharia em Redes e Serviços Inteligentes para 2030 (Smartness) – constituído por Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e Ericsson na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Nele, pesquisadores devem fazer experimentos com a tecnologia atual, o 5G, e com a sua evolução, o 6G.
A tecnologia 5G tem como característica maior velocidade de conexão (capaz de baixar filmes em segundos), baixa latência (tempo de resposta entre um comando feito e sua execução), além da possibilidade de conectar múltiplos equipamentos.
Sobre o 6G, espera-se que sua implementação ocorra em meados de 2030 — a evolução de tecnologias móveis tem ocorrido num ciclo de dez anos: 4G começou na década de 2010, enquanto o 5G começou na década de 2020.
O objetivo do novo centro é explorar soluções inovadoras em telecomunicações que auxiliem na projeção e construção de infraestruturas de computação em nuvem e redes cognitivas orientadas por aprendizado de máquina e inteligência artificial, para o desenvolvimento da próxima geração de serviços de conectividade.
“O nosso desafio é olhar para o futuro e pensar quais são os serviços e as aplicações que vão demandar um conjunto de novas tecnologias nos próximos dez anos. As aplicações das quais se fala, hoje, com a chegada do 5G, mas que a quinta geração de internet não vai atender completamente”, disse Christian Esteve Rothenberg, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC-Unicamp) e pesquisador responsável pelo Smartness, em comunicado.
O Smartness (sigla em inglês para Smart Networks and Services) está sediado no campus de Campinas e conta com a participação de professores e pesquisadores da FEEC e do Instituto de Computação (IC-Unicamp).
A pesquisadora-chefe da Ericsson, Maria Valéria Marquezini, será a vice-diretora do centro de pesquisas.
No total, mais de 50 especialistas em engenharia elétrica, computação, telecomunicações ou áreas correlatas participarão do projeto, que vai explorar a programabilidade, elasticidade, escalabilidade e automação esperadas das redes e serviços inteligentes da próxima geração.
Além da Unicamp e da Ericsson Research, o hub conta com a participação de pesquisadores das universidades de São Paulo (USP) e do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), além das federais de São Carlos (UFSCar), do ABC (UFABC), do Amazonas (UFAM), do Espírito Santo (UFES), de Goiás (UFG), do Pará (UFPA), do Rio Grande do Norte (UFRN), de Campina Grande (UFCG), do Ceará (UECE), de Uberlândia (UFU), da Bahia (UFBA), de Minas Gerais (UFMG), do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Pampa (Unipampa).
Polo de pesquisa 6G
O Smartness faz parte do Programa Centros de Pesquisa em Engenharia (CPEs) da FAPESP, que associa a criação de núcleos de pesquisa em parceria de universidades com empresas para fomentar a inovação tecnológica.
O convênio anunciado no primeiro semestre teve negociações intermediadas com apoio da Agência de Inovação Inova Unicamp, que também dará o suporte em atividades de estímulo à inovação, ao empreendedorismo e apoio à gestão da propriedade intelectual.
“O centro Smartness é uma iniciativa inédita no Brasil e na América Latina. Um polo de pesquisa de última geração na área de telecomunicações e redes de computadores, com foco no desenvolvimento de serviços avançados de conectividade móvel sob diferentes perspectivas da indústria, academia e sociedade, fortalecendo o protagonismo do Brasil e ampliando seu poder de competitividade”, explicou Mateus Santos, head de pesquisa da Ericsson no Brasil.
A iniciativa cria um ambiente desafiador intelectualmente e favorável para pesquisas em ciência e tecnologia, voltadas para a inovação e o desenvolvimento das redes 5G, em implantação no Brasil, e a preparação para o 6G. A missão do Smartness será produzir pesquisas na fronteira do conhecimento, para o desenvolvimento de tecnologias, com potencial para criar impacto e inovação tecnológica.
O grupo desenvolverá tecnologias de processamento de tráfego para acelerar a comunicação de forma distribuída elevando a interconexão de objetos cotidianos e permitindo usos da internet que não seriam possíveis com a infraestrutura atual. Avanços que serão aproveitados em braços robóticos para aplicações industriais e de saúde, sensores, carros, salas educacionais e de treinamento com óculos de realidade aumentada, só para citar alguns exemplos.
Financiamento de longo prazo
Diante da complexidade dos problemas abordados, o SMARTNESS terá financiamento de longo prazo com autonomia no uso dos recursos.
Os investimentos financeiros e não financeiros serão da ordem de R$ 56 milhões, distribuídos ao longo de dez anos.
A FAPESP aportará um total de R$ 14 milhões no novo centro, mesmo valor reservado em investimento pela cofinanciadora Ericsson.
A empresa sueca implementará a infraestrutura tecnológica para os novos trabalhos de pesquisa. Outra parcela, de R$ 28 milhões, virá da Unicamp, como contrapartida econômica, na forma de salários de pesquisadores e de pessoal de apoio, infraestrutura e instalações.
Os resultados gerados produzirão publicações de impacto internacional e poderão ser usados pela Ericsson em seus produtos ou serviços, para firmar parcerias com outras empresas ou ainda fomentar o empreendedorismo e a inovação de base tecnológica no país, com a formação de pequenas empresas e spin-offs acadêmicas.
Em paralelo, o centro também ajudará a formar mão de obra altamente qualificada para os desafios futuros da internet.
“Temos uma grande oportunidade com o lançamento do Smartness e esperamos captar talentos que se engajem com a visão do centro. Poucos programas oferecem financiamentos sustentáveis de tão longo prazo. Vemos também como uma forma de fixar esses profissionais no Brasil, diante de um mercado tão aquecido na área”, destacou Rothenberg.
*Com informações da Agência Fapesp